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    CRÍTICA

    Silêncio e reticências dominam longa sobre Salvador Allende

    INÁCIO ARAUJO
    CRÍTICO DA FOLHA

    13/04/2016 02h30

    Quem espera de "Allende, Meu Avô Allende" grandes revelações sobre a vida pessoal ou política do presidente chileno, morto durante o golpe de 11 de setembro de 1973, pode se decepcionar.

    Embora logo de início relembre seu apelido familiar, Chicho, o filme será muito mais sobre as perdas, distâncias, ausências que persistem em torno dele.

    Não por acaso, o filme de Marcia Tambutti, neta de Allende, se dá em torno de uma família separada pelo golpe de Estado. Junto a Tacha, a avó, Marcia bem que tenta buscar detalhes de sua vida, da política, das relações pessoais etc. Mas Tencha se cansa com facilidade, o que não é de espantar em sua idade.

    Divulgação
    Documentario "Allende meu Avo Allende" Foto: divulgacao ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    O presidente chileno Salvador Allende com uma das netas no colo, em cena do documentário

    Será apenas isso, cansaço? Talvez não. Aparentemente, a família sabe ou lembra pouco sobre ele. E fala menos ainda. Encontram-se sinais esparsos de sua existência. É o vazio o que mais significa. Temos aí um filme que vale menos pelo que se fala do que pelos silêncios e reticências.

    À parte Toncha, temos aí duas gerações com experiências diferentes. Para os netos, tudo é um pouco difuso. Para a filha sobrevivente, nem tanto: sobre as relações dos pais, não fala. Sobre a casa da praia, fala de um lugar paradisíaco arruinado pelos militares, ao qual não quer voltar.

    A memória é não raro dura. Tati, a filha de Allende que se suicidou em Cuba, em 1977, é uma presença importante. É como se a tragédia familiar rebatesse nela com tanta força que afetasse a todos.

    E se transportasse ao espectador, pois a imagem dos Allende é de uma família (quase) como qualquer outra, com seus segredos, tragédias, momentos felizes ou dolorosos.

    Seria injusto, e muito, dizer que o filme nada traz de inédito sobre Allende. Mas raramente isso é fundamental. Talvez não seja uma inconfidência abrir aquilo que o filme revela ao final: que "Allende" significa "Além de".

    Se a vida de Allende pertence à história chilena, é nos traços que deixa, ali onde ela ecoa como dor, alegria ou mistério, como encontro ou desencontro, que o filme encontra, afinal, seu sentido.

    ALLENDE, MEU AVÔ ALLENDE
    DIREÇÃO Marcia Tambutti Allende
    PRODUÇÃO México/Chile, 2015
    CLASSIFICAÇÃO 12 anos
    ONDE Centro Cultural São Paulo, r. Vergueiro, 1.000, hoje, às 18h

    Edição impressa

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