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    crítica

    Cineasta adota rigor em retrato obrigatório do Estado Novo

    SÉRGIO ALPENDRE
    CRÍTICO DA FOLHA

    16/04/2016 02h36

    Em "Imagens do Estado Novo: 1937-1945", o mais recente documentário de Eduardo Escorel, vemos quase quatro horas de imagens impressionantes, e na maior parte oficiais, criadas como propaganda do regime totalitário de Getúlio Vargas.

    Por ser muito bem realizado, é obrigatório para quem quiser entender nosso passado, nossa constituição política, nossa formação.

    O longa amplifica a investigação empreendida pelo cineasta em três filmes que também trazem datas no título (para reforçar o valor de documento histórico): os médias "1930: Tempo de Revolução" (1990) e "32: A Guerra Civil" (1992), e o longa "35: O Assalto ao Poder" (2002).

    Nesses casos, é grande o risco do material ser desvirtuado no meio do processo, tornando-se, às vezes inconscientemente, um mero panfleto político, seja de que lado e em que período estiver.

    Divulgação
    Getúlio Vargas em cena do documentário 'Imagens do Estado Novo'', de Eduardo Escorel
    Getúlio Vargas em cena do documentário 'Imagens do Estado Novo'', de Eduardo Escorel

    Escorel parece ciente desse risco. Evita-o ao ser rigoroso no desenvolvimento da estrutura da narrativa histórica (o roteiro é escrito por ele e Flávia Castro). Rigoroso a tal ponto que as imagens de diversões ou do Carnaval, também documentos históricos, completam o mosaico da vida brasileira na época.

    Há adequada preocupação em ser didático. Como nos três filmes anteriores, temos uma narração (bem lenta e pausada, do próprio Escorel) que explica e costura as imagens, sustentando a estrutura.

    Assim, Escorel diminui os riscos de incompreensão (ou má compreensão) de seu trabalho e insere a crítica, num duelo entre palavras e imagens, estratégia usada nos documentários do cinema novo.

    Vemos os adversários políticos, os golpes bem sucedidos, a ameaça integralista capitaneada por Plínio Salgado (perigosa aproximação com o nazismo), a violenta repressão (Vargas habilmente conseguiu se dissociar dessa violência), a criação do DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda), a insistência na neutralidade durante a Segunda Guerra Mundial, a aproximação dos EUA de Roosevelt, entre muitas outras coisas

    Passamos também pelos sucessos musicais da época e pelo lançamento de "O Descobrimento do Brasil" (1937), de Humberto Mauro, um dos mais importantes filmes históricos brasileiros.

    "Imagens do Estado Novo", com sua imponência, é para quem entende que cinema pode ser muito mais do que uma simples diversão acompanhada de um grande saco de pipoca.

    IMAGENS DO ESTADO NOVO: 1937-1945
    DIREÇÃO: Eduardo Escorel
    PRODUÇÃO: Brasil, 2016, 12 anos
    QUANDO: sáb. (16), às 13h, no Cinearte (av. Paulista, 2.073)

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