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    STF propiciou 'golpe' por omissão, afirma Raduan Nassar

    MAURÍCIO MEIRELES
    COLUNISTA DA FOLHA

    20/04/2016 20h45

    Pedro Ladeira/Folhapress
    RASILIA, DF, BRASIL, 31-03-2016: Presidente Dilma Rousseff participa de ato contra o impeachment e em defesa da Democaria ao lado de artistas e intectuais, no Palácio do Planalto. Dilma com o escritor Raduan Nassar. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER)
    Dilma Rousseff abraça o escritor Raduan Nassar em evento contra o impeachment

    Raduan Nassar voltou a escrever. Mas não se trata de ficção. Começou a circular nesta quarta-feira (20), em blogs de esquerda, um texto intitulado "Judiciário estará acima da lei" escrito pelo autor de "Lavoura Arcaica".

    Raduan confirmou à Folha que é ele mesmo o autor.

    No texto, ele acusa o STF (Supremo Tribunal Federal) de ter propiciado "por 'omissão' o golpe de domingo/17.04.2016", referindo-se à votação de domingo (17) na Câmara dos Deputados, que instalou o processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. O escritor paulista afirma ainda que o Supremo "está adormecido, dorminhoco, maculado por sinal pelo seu passado com o regime militar" e que a corte poderia ter impedido a iniciativa dos deputados.

    O autor afirma que processo foi aberto em grande parte "por uma quadrilha de cleptomaníacos", em referência aos deputados. Raduan acrescenta, contudo, que entre os ministros da suprema corte há "respeitáveis exceções", sem citar nomes.

    A pena do recluso escritor se volta ainda contra a PGR (Procuradoria Geral da República), que ele acusa de produzir pareceres "partidarizados".

    "[A Procuradoria] Arquivou quatro pedidos de investigação de um tucano, trazendo à lembrança o "engavetador geral da República" da era FHC", escreve Raduan, em relação aos pedidos de investigação contra Aécio Neves (PSDB-MG), citado em delações da Lava-Jato.

    Por último, ele afirma também que o ministro Gilmar Mendes, do STF, é "questionável e pedante".

    Não é a primeira manifestação de apoio de Raduan Nassar a Dilma Rousseff. No fim de março, ele quebrou a reclusão para defender a legalidade do governo da presidente em um evento no Palácio do Planalto. Na ocasião, afirmou que a petista não cometeu crime de responsabilidade e que não há embasamento para o processo de impeachment que tramita contra ela no Congresso Nacional.

    Roberto Stuckert/Presidencia/Xinhua
    (160331) -- BRASILIA, marzo 31, 2016 (Xinhua) -- Imagen cedida por la Presidencia de Brasil de la presidenta brasileña Dilma Rousseff (d), participando en una reunión con intelectuales y artistas brasileños, en el Palacio de Planalto, en Brasilia, Brasil, el 31 de marzo de 2016. El jueves, intelectuales y artistas brasileños participaron en un encuentro con la presidenta Dilma Rousseff en el que expresaron su respaldo al gobierno de la presidenta, de acuerdo con información de la prensa local. (Xinhua/Roberto Stuckert/Presidencia de Brasil) (ah) (ce)
    Da esq.: Beth Carvalho, Raduan Nassar, Letícia Sabatella e Dilma no ato a favor da petista em março

    Leia a íntegra do texto de Raduan:

    Ressalvadas exceções de ministros atuais respeitáveis, o STF - Supremo Tribunal Federal - está adormecido, dorminhoco, maculado por sinal pelo seu passado com o regime militar.

    Tivesse o STF despertado da letargia, e o processo de impedimento da presidenta Dilma Rousseff não teria sido sequer instaurado, pela desqualificação de quem o conduz. E porque deveria sobretudo ter se detido no exame da tipificação do suposto crime de responsabilidade.

    Uma pergunta: por que o mesmo tribunal não julgou até agora o presidente da Câmara dos Deputados? Está lá como réu desde janeiro do ano em curso Daí que, ressalvadas as respeitáveis exceções, seria até o caso de se afirmar que o STF, que inclui alguns ministros apequenados, propiciou por "omissão" o golpe de domingo/17.04.2016, levado a cabo na Câmara, em grande parte, por uma quadrilha de cleptomaníacos.

    Além disso, a Procuradoria Geral da República patrocina claramente pareceres partidarizados, dando cobertura inclusive às derrapagens de um judiciário de primeira instância. Arquivou quatro pedidos de investigação de um tucano, trazendo à lembrança o "engavetador geral da República" da era FHC.

    Em maio próximo, assume a presidência do TSE - Tribunal Superior Eleitoral - o questionável e pedante ministro Gilmar Mendes e, no próximo ano, o excelente Enrique Ricardo Lewandowsky será substituído na presidência do STF pela global Cármem Lúcia

    Estamos bem arrumados!

    De fato, como é costume alegarem, ninguém está acima da lei, segundo a Constituição. Mas é preciso que se diga com todas as letras: a magistratura também não está acima da Lei.

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