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    CRÍTICA

    Desfiles traduzem agruras da modernidade na 41ª SPFW

    PEDRO DINIZ
    COLUNISTA DA FOLHA
    GIULIANA MESQUITA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    26/04/2016 02h21

    Seis refugiados da Síria e do Haiti entraram na passarela do estilista Ronaldo Fraga, que fechou o primeiro dia de desfiles da São Paulo Fashion Week na segunda-feira (25), apresentando uma leitura sobre a crise migratória mundial.

    Uma viagem a Moçambique foi o ponto de partida para o pensamento do estilista, que colocou camisas sujas de sangue, bordados de correntes com punhos fechados e peças de linho amassado para traduzir as viagens dos imigrantes em busca de vida nova.

    "Os radicais europeus acham que os imigrantes 'estragam' a sua cultura, mas não percebem que uma cultura está sempre em mutação", disse ele nos bastidores.

    O ultradecorativismo reforçou a noção de identidade dos povos africanos lidos por Fraga. Vários modelos negros desfilaram na passarela com tranças e cabelos afro.

    As agruras do mundo moderno também foram o ponto de partida de Luiz Claudio Silva, estilista da Apartamento 03. Se Ronaldo imprimiu correntes em seus vestidos, Silva colocou algemas e chaves em colares e brincos de ouro rosa para definir seu conceito de força bruta.

    O ilusionista húngaro Harry Houdini, um dos primeiros mágicos do mundo, foi inspiração para os conjuntos de brilho e o trabalho trançado que remete às camisas de força dos números de magia.

    "Como estilistas, a gente ilude nossas clientes, mas no sentido mais encantador da palavra", disse Silva.

    Pérolas falsas aplicadas sobre vários metros de crepe compunham a coleção, que também apresentou um trabalho preciso de alfaiataria "sem gênero".

    Essa mesmo movimento de colocar roupas de identidade híbrida norteou o desfile de 20 anos da grife Uma, da estilista Raquel Davidowicz.

    Tons terrosos ajudaram a compor a coleção comemorativa da etiqueta, que desfilou sua reconhecida alfaiataria com um viés esportivo.

    Não fosse o trabalho minucioso de mesclar tecidos como seda, algodão e linho em peças de recortes assimétricos e utilitárias, a imagem final seria só um remix das últimas duas décadas da marca.

    Davidowicz tem a seu favor uma boa mão e um olhar de lince para a roupa de rua, confortável e pouco óbvia. Os vestidos receberam detalhes esportivos, e os acessórios de prata e ouro, transitam no limite entre a simplicidade e a extravagância.

    *

    LILLY SARTI
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