No programa "Ensaio" (TV Cultura), o jornalista e produtor musical Fernando Faro inventou a arte de entrevistar artistas da música popular brasileira sem perguntas. Em seus 88 anos de vida, Faro, que morreu na madrugada de segunda (25), também cultivou outra arte que dispensa as palavras: o futebol.

Apaixonado pelo esporte —sobretudo, pelo Santos— o jornalista foi velado em São Paulo com uma camisa do seu time estendida sobre o caixão.

Nas quadras, era um armador que dava trabalho para os colegas. "Jogava na defesa e castigava o ataque. Lembro de chegar em casa depois de um jogo todo arranhado, suado, e minha mulher achava que eu tinha ido a um bordel. Mas era o Baixo", relembra Toquinho, chamando Faro pelo apelido com que ficou conhecido entre os amigos.

Também podia ser rasteiro, na memória do amigo e vizinho "de parede" Goulart de Andrade, jornalista com quem Faro fez o programa "Poder Jovem" na TV Tupi, nos anos 1960. "Bom de bola. Um filho da puta como armador: batia embaixo e fingia que tinha apanhado."

Jairzinho, filho de Jair Rodrigues e também amigo de Faro, enxerga uma metáfora sobre o Baixo em quadra e na cultura: armava tão bem em campo quanto na música e em suas entrevistas.

Faro fundou o time Namorados da Noite, em que jogava bola com Miele. Até hoje a equipe se reúne às terças-feiras, na quadra do colégio Assunção, em São Paulo. Disputou partidas contra as equipes de Chico Buarque e Paulinho da Viola. A camisa estrelada os diferenciavam dos rivais: símbolo da quantidade de artistas que passaram pelo elenco, entre Antonio Marcos e Elifas Andreato.

Desenhista e animador, o amigo e companheiro de pelada Luiz Briquet, o Ado, guarda fotografias das partidas com os Namorados. Ele enviou alguns desses registros à Folha.