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    crítica

    'Gritos e Sussurros' é a perfeita adaptação do estilo à dramatização

    SÉRGIO ALPENDRE
    DE COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    29/04/2016 02h15

    Os filmes clássicos restaurados que têm voltado ao circuito servem também para que as novas gerações de diretores aprendam a filmar melhor.

    Para que percebam a força do ator e da encenação e a maneira como esses filmes geralmente demonstram uma perfeita adequação do estilo ao drama encenado.

    Nesses sentidos, e em outros tantos, "Gritos e Sussurros" (1972), que inaugura a fase madura de Ingmar Bergman, é exemplar.

    Aqui não temos a explosão de cinema moderno de "Persona" (1966), ou a exacerbação do desejo de "O Silêncio" (1963), ou mesmo a delicadeza poética de "Morangos Silvestres" (1957).

    Mas "Gritos e Sussurros" tem a força dessas obras-primas e, como elas, é um filme em que a espiritualidade e o sofrimento humanos são compreendidos e representados em toda a complexidade.

    Agnes está com câncer terminal. Ela recebe a atenção e os cuidados de suas duas irmãs e da empregada da família, num casarão que remete a fortes lembranças do passado.

    Divulgação
    Cena do filme 'Gritos e Sussurros
    Cena do filme 'Gritos e Sussurros'

    Como sempre em Bergman, o elenco é irrepreensível. Agnes é interpretada pela musa Harriet Andersson, que em 1952 encantava os cinéfilos como a sensual protagonista de "Mônica e o Desejo", do mesmo diretor. Suas irmãs são Liv Ullmann e Ingrid Thulin, atrizes bergmanianas por excelência.

    Kari Sylwan, excepcional atriz de poucos filmes, é Anna, dedicada empregada responsável pelo conforto que as irmãs, com seus problemas, são incapazes de dar a Agnes. Também no elenco outro ator bergmaniano: Erland Josephson como David, o médico.

    É um estudo em vermelho que Bergman promove com a ajuda de seu habitual diretor de fotografia, Sven Nykvist. Vermelho do sangue, mas também da alma, como o próprio Bergman gostava de dizer.

    O corpo de Agnes está morrendo, mas sua alma sobrevive. Suas irmãs, por outro lado, parecem aprisionadas pelo ressentimento e pelos traumas do passado. Falta a elas a vivacidade que sobra em Anna.

    As belas palavras do grande crítico português João Bénard da Costa (1935-2009) são a respeito de outra obra, mas cabem perfeitamente a "Gritos e Sussurros": "O fundamental é a vida; a vida continua sempre; é de vida que fala este filme de morte".

    GRITOS E SUSSURROS
    (Viskningar Och Rop)
    DIREÇÃO: Ingmar Bergman
    ELENCO: Ingrid Thulin, Liv Ullmann
    PRODUÇÃO: Suécia, 1972
    QUANDO: de 28/4 a 11/5
    ONDE: Cinesesc (r. Augusta, 2063, tel. 3087-0500)
    CLASSIFICAÇÃO: 18 anos

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