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    Inspirado em quadro expressionista, bailarino dança 'todos os seus gritos'

    IARA BIDERMAN
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    29/04/2016 02h31

    A figura distorcida do quadro "O Grito", de Edvard Munch (1863-1944), saiu da tela para o corpo retorcido do bailarino Marcus Abranches.

    Nesta sexta (29), ele estreia sua versão dançada do quadro do expressionista norueguês. "O Grito" é, para Abranches, uma coreografia sobre todos os gritos de sua vida. O nascimento prematuro aos seis meses e 20 dias, a primeira vez que andou, aos oito anos, as angústias da adolescência, as dores do crescimento.

    Abranches teve paralisia cerebral na hora do parto, o que comprometeu seus movimentos. Isso influencia sua dança, mas não a restringe.

    Ele é um bailarino, e a deficiência só faz com que desenvolva uma linguagem coreográfica para um corpo que chama de diferente.

    Gal Oppido/Divulgação
    O bailarino Marcus Abranches no espetáculo 'O Grito
    O bailarino Marcus Abranches no espetáculo 'O Grito'

    "Deficiente todo mundo é em alguma coisa", diz ele, que detesta "espetáculo como forma de piedade, em que pessoas com algum tipo de deficiência fazem uma dança horrível e são tratados pela plateia como criança: 'que bonitinho, coitadinho'".

    Abranches e seu grito, assim como o de Munch, não tem nada de bonitinho. O que tem são referências visuais e estéticas requintadas: além da pintura, filmes como "O Gabinete do Dr. Caligari" (1920), de Robert Wiene e "Nosferatu, O Vampiro da Noite" (1979), de Werner Herzog.

    Nas apresentações, Abranches leva movimentos pesquisado e há espaço para a improvisação e os movimentos involuntários decorrentes da condição motora do bailarino.

    O resultado é um corpo bastante contemporâneo, que lembra o dos bailarinos de butô. "Sou naturalmente assim, acordo e já começo a dançar butô com os movimentos involuntários", diz.

    Em seu "Grito", ele contracena com a bailarina Alessandra Grimaldo, cadeirante. E faz uso da suspensão humana –ganchos são enfiados na pele da pessoa para levantá-la e a deixar em pé ou no ar.

    A imagem é aflitiva para algumas pessoas. "Não faço para chocar. Acho que tem quem goste. Não sou obrigado a agradar todo o mundo."

    O GRITO
    QUANDO sex. (29) e sáb. (30), às 19h
    ONDE Centro de Referência da Dança, Baixos do Viaduto do Chá, tel. (11) 32143249
    QUANTO grátis
    CLASSIFICAÇÃO 14 anos

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