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    Historiadora desvenda segredos da vida cotidiana no Brasil colônia

    NATÁLIA PORTINARI
    DE SÃO PAULO

    29/04/2016 17h05

    Em sua obra de quase 40 livros, Mary del Priore, ex-professora de história da USP e da PUC-RJ, conta a história do Brasil e evita explicações teóricas, grandes personalidades e datas.

    "Quero falar das questões do cotidiano, o mobiliário, a comida, a bebida, o pequeno comércio, nascimentos, casamentos, doenças, mortes", diz a escritora à Folha.

    Na nova série, "Histórias da Gente Brasileira", ela aborda as "características saborosas" do dia a dia dos brasileiros em quatro volumes. O primeiro é "Colônia", recém-lançado. Depois, ainda sem data de lançamento, virão "Império", "República Velha" e um sobre a história recente.

    No primeiro volume, o leitor pode conhecer as origens do namoro à janela, as tormentas infligidas pelas formigas nos portugueses e a utilidade das fezes de cavalo na produção de couro colonial, entre outros detalhes curiosos sobre nossos antepassados.

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    "Loja de Barbeiro", aquarela de Jean Baptiste Debret
    "Loja de Barbeiro", aquarela de Jean Baptiste Debret

    Os costumes sexuais, por exemplo, não eram tão diferentes de hoje. A historiadora relata que os colonos apalpavam as mulheres pelas ruas e que homens homossexuais "andavam ombro a ombro" e "penteavam-se os cabelos mutuamente" em plena luz do dia, desafiando a ordem pública.

    Outro tema do livro é a alimentação. Batata-doce, abóbora, milho, larva de taquara, araçá, cajá, gabiroba, ingá, jabuticaba, jatobá, pequi e umbu são exemplos do que estava à disposição de índios e portugueses no Brasil colonial.

    Para Del Priore, é essencial contar uma boa história sem se preocupar com o "porquê" dos acontecimentos, tarefa que deixa para a academia.

    O seu público-alvo também vai "de estudantes de história a donas de casa", segundo a escritora. "Quando você oferece ao jovem questões que têm a ver com o seu cotidiano, como história do ensino, da sexualidade, das relações parentais, eles se interessam."

    "Quero que todas as pessoas leiam livros de história com o mesmo prazer de ler um bom romance", diz Del Priore. Veja abaixo exemplos de curiosidades no livro da autora.

    DIA A DIA NO BRASIL COLÔNIA

    • XAVECO

    No "namoro de escarrinho", o rapaz ficava embaixo da janela da moça e fungava, como se estivesse resfriado. "Caso a declaração fosse correspondida, seguia-se uma cadeia de tosses, assoar de narizes e cuspidelas"

    • BICHO MAIS TEMIDO

    Segundo viajantes, havia um "exército de formigas" que devorava tudo exceto tubérculos, impossibilitando plantações. "É a praga do Brasil", lamentou o agricultor Gabriel Soares de Souza.

    • PRATO TÍPICO

    A monocultura de cana de açúcar causou uma escassez de alimentos no Brasil. Em todas as classes, farinha e peixe dominavam o cardápio. Frango, carne de boi, ovo e trigo, só para os mais nobres.

    • ASPIRINA DE ÉPOCA

    Uma das soluções para a dor de cabeça, registrada em livro do médico Ferreira da Rosa, era colocar pombos mortos na sola dos pés, "abertos vivos pelo espinhaço".

    Histórias Da Gente Brasileira
    Mary Del Priore
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    • PADRÃO DE BELEZA

    Entre escravos, valorizavam-se moças com nádegas "arrebitadas para trás" e peitos pequenos e duros. Já os portugueses se apegavam ao padrão renascentista, uma mulher com corpo carnudo, cabelos claros e bochechas largas.

    HISTÓRIAS DA GENTE BRASILEIRA: COLÔNIA
    AUTORA: Mary del Priore
    EDITORA: Leya
    QUANTO: R$ 54,90 (432 págs.)

    Edição impressa

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