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    Moda

    análise

    Semana de moda de SP tenta levar otimismo a mercado arrasado

    PEDRO DINIZ
    COLUNISTA DA FOLHA

    02/05/2016 02h25

    Adriano Vizoni/Folhapress
    SAO PAULO - SP - BRASIL, 27-04-2016, 11h00: SPFW VERAO 2017. Desfile da grife Isabela Capeto Campos, durante o terceiro dia da Sao Paulo Fashion Week, realizado na Bienal do Parque do Ibirapuera. (Foto: Adriano Vizoni/Folhapress, ILUSTRADA) ***EXCLUSIVO FSP***
    Desfile da grife Isabela Capeto na São Paulo Fashion Week, realizada na Bienal do parque do Ibirapuera

    Entre desfiles e "apresentações especiais", a 41ª São Paulo Fashion Week terminou na sexta (29) com um calendário estufado. A aparente bonança, no entanto, não escondeu uma verdade posta debaixo das passarelas da Bienal do Ibirapuera, local da maioria dos desfiles: o dinheiro, principal motor da indústria do vestuário, sumiu.

    O evento divulgou que nunca houve tantos patrocinadores. Mas o "recorde" de 18 cotas de patrocínio somaram pouco mais de R$ 12 milhões. Em sua última edição, a Luminosidade, organizadora da semana de moda, colocou em seu caixa quase R$ 15 milhões.

    Entre as 37 grifes que participaram dessa edição -29 desfilaram na anterior-, muitas preferiram apresentações enxutas. A Osklen, que sempre encantou com seus desfiles, armou um coquetel numa loja para apresentar roupas em araras. Especula-se que a Acquastudio teria cancelado sua apresentação na sede de uma assessoria de imprensa por falta de verba.

    O pouco dinheiro e as perspectivas desanimadoras para os próximos anos também influíram nas roupas exibidas pelas marcas. Apesar de mais diluídas que na última semana de moda, em novembro, as referências às coleções europeias ainda são identificáveis na modelagem e no visual das grifes.

    Há um apreço por tudo que é mediano, fácil de entender e vendável. O tão falado "veja agora, compre agora", que será adotado a partir de 2017 pela SPFW e que encurta o tempo entre a roupa exibida na passarela e a exposta na vitrine, já ensaia os passos da moda daqui em diante.

    A palavra "crise", que assombra a passarela paulistana desde muito antes do atual derretimento da economia, refletiu nessa falta de ousadia e no medo desmensurado das marcas em errar e comprometer a foto estampada nos catálogos enviados aos clientes.

    Não por menos, os melhores desfiles foram os de marcas menores, cujo sucesso de vendas está atrelado à imagem de vanguarda comprada por pequenos nichos de consumidores. O mineiro Ronaldo Fraga tem uma clientela restrita, que deve abraçar as referências ao problema migratório europeu, estampado em vestidos texturizados e cortados manualmente.

    A crise dos refugiados, além de tema mais atual do que a Miami e o Havaí usados como inspiração por grifes como Salinas e Ellus nesta edição, foi destrinchado por Fraga em linho amassado, correntes e blusas manchadas com tinta vermelha.

    Imagem tão impactante quanto a do desfile da grife Apartamento 03, marca do estilista Luiz Claudio Silva. Mesmo apostando no rescaldo da já ultrapassada tendência dos vestidos-pijama, Silva desconstruiu as camisas de força usadas nos números do ilusionista húngaro Harry Houdini (1874-1926) para seu estudo da moda "sem-gênero".

    O que ainda não parece claro para algumas grifes da São Paulo Fashion Week é que, em um mercado saturado de marcas e toneladas de roupa, destaca-se quem redefine a beleza, distancia-se da uniformidade e sabe exatamente para quem quer falar.

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