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    Filmes na TV nesta semana vão de resgate de veteranos a drama iraniano

    INÁCIO ARAUJO
    CRÍTICO DA FOLHA

    02/05/2016 02h19

    Do acerto de contas com o passado alemão em "Barbara" ao drama iraniano "A Separação", os filmes exibidos na TV nesta semana reservam boas opções. Entre os clássicos há "São Paulo S/A" (1965), de Luís Sérgio Person, e "Chinatown", longa dirigido por Roman Polanski e com roteiro de Robert Towne.

    Já entre as obras mais recentes, o Canal Curta! traz, na sequência, quarto curtas de Kleber Mendonça Filho, pernambucano que ganhou projeção com "O Som ao Redor" e agora vai a Cannes para estrear seu novo filme, "Aquarius". Leia abaixo quais são os destaques desta semana, selecionados pelo crítico da Folha Inácio Araujo.

    *

    Assista ao trailer de 'Barbara'

    SEGUNDA-FEIRA (2)

    Há dois assuntos centrais no cinema alemão pós-Muro de Berlim: o nazismo e o comunismo. São os dois acertos de contas que, da comédia ao drama, movem o interesse de cineastas e plateias.

    Com "Barbara" (2012, Arte1, 16h, 12 anos), Christian Petzold toca com habilidade na segunda dessas questões, ao mostrar uma médica que, suspeita de querer fugir para a Alemanha Ocidental, é mandada para um posto
    de saúde no meio do nada.

    Até aí tudo vai muito mal. Mas não há nada que não possa piorar: um médico parece se interessar por Barbara. Ok. Então vem a dúvida: o que pretende esse cara? Está a fim dela ou é um espião?

    Petzold desenvolve seu tema produzindo um tipo de beleza sagrada da imagem, que acentua o distanciamento entre a personagem (e a Alemanha Oriental) e o mundo, ao mesmo tempo em que não esquece que é de
    humanos que se está tratando (a política é um quadro).

    Assista ao trailer de "Red - Aposentados e Perigosos"

    TERÇA-FEIRA (3)

    "Red - Aposentados e Perigosos" (2010, TC Action, 19h55, 14 anos) começa por ser uma hipótese de originalidade num tipo de filme (ação, aventura) desgastado pela repetição.

    Aqui, trata-se de um grupo de antigos agentes, hoje aposentados, que se descobrem bem menos inofensivos do que imaginavam e precisam se armar de habilidade e força para combater forças que nem sabem quais são, mas são.

    Ou seja, o filme trabalha mais do que tudo o carisma de alguns atores, como Bruce Willis, ex-"Duro de Matar". Continua um tanto difícil. Ou o de John Malkovich, que entra na história como uma espécie de cientista louco, o criativo.

    Há ainda Mary-Louise Parker, Helen Mirren, Morgan Freeman: em suma, o filme que Robert Schwentke dirige (depois estouraria com a série "Divergente") dá saída a um monte de veteranos.

    Ainda hoje, o francês "Águas Tempestuosas" (1941, TV5 Monde, 0h), de Jean Grémillon.

    Ana Rojas - 9.dez.2005/Folhapress
    9 Festival de Cinema Luso-Brasileiro - Na foto: Imagem de Vinyl Verde de 15 minutos de Kleber Mendonca Filho - Santa Maria da Feira (Portugal), 09.12.2005 - Foto: Ana Rojas/Folha Imagem
    Cena de 'Vinil Verde', curta do pernambucano Kleber Mendonça Filho, diretor de 'O Som ao Redor'

    QUARTA-FEIRA (4)

    Vamos a uns títulos que quase ninguém conhece: "Vinil Verde" (2004), "Noite de Sexta, Manhã de Sábado" (2006), "Eletrodoméstica" (2005) e "Recife Frio" (2009).

    As quatro obras serão exibidas entre 20h e 21h30 no Canal Curta! e constituem o repertório de curtas de Kleber Mendonça Filho, que este ano representa o Brasil em Cannes com o seu "Aquarius".

    Desde seus curtas, aliás, Mendonça foi considerado uma grande promessa do cinema brasileiro, e o mínimo a dizer de "Recife Frio", por exemplo, é que se trata de uma pequena obra-prima.

    O grupo de filmes precede, no mais, a exibição do clássico "São Paulo S/A" (1965, Canal Curta!, 21h30, 12 anos), ao qual voltaremos.

    Opção bem viável: "A Separação" (2011, Arte1, 0h, 12 anos), de Asghar Farhadi. A ele também voltaremos.

    Assista ao trailer de 'A Separação'

    QUINTA-FEIRA (5)

    Se somarmos o tempo de exibição da saga "Star Wars" nos canais TNT e Telecine Cult teremos algo em torno de 20 horas. Basicamente, começa às 6h e termina às 2h30. Não se trata propriamente de uma série inédita. Ao contrário, passa a toda hora.

    Existe um tanto de desfaçatez nesse tipo de programação. Afinal, os assinantes pagam para ter uma programação que comporta reprises, sem dúvida, até para que haja opções de horário e tal e coisa. Mas o que se anda fazendo vai além de qualquer limite tolerável.

    O dia é muito mais bem suprido por canais alternativos. O Arte1, por exemplo, traz "A Separação" (2011, 15h45, 12 anos), de Ashgar Farhadi. Um casal deve se separar porque um dos cônjuges deseja deixar o Irã, enquanto o outro precisa viver lá. O impasse é o centro desse drama de valor universal. Um bom filme, mas não espere por um Kiarostami.

    Fernando Santos - 1995/Folhapress
    O antropÛlogo e pensador francÍs Claude LÈvi-Strauss. (00.00.1985. Foto: Fernando Santos/Folha Imagem) neg 8639/85 ***FOTO DE USO EXCLUSIVO FOLHAPRESS***
    O antropólogo e pensador francês Claude Levi-Strauss em foto realizada na década de 1980

    SEXTA-FEIRA (6)

    Foi muito discretamente que Claude Levi-Strauss se tornou um nome central do pensamento do século 20. Não foi best-seller como Sartre, nem pop star como Lacan, nem ganhou Nobel. (Diga-se que ao menos não teve a pronúncia de seu nome dilacerada no Brasil, como aconteceu com Deleuze.)

    Foi um etnólogo. Estudou os índios brasileiros. Foi professor da USP na juventude. Desenvolveu a ideia, originalíssima, de que cada civilização tem sua própria evolução (portanto, não se espere que os índios venham a se tornar belos ocidentais daqui a alguns séculos).

    Para resumir, o conceito de estruturalismo que influenciou metade dos pensadores do século 20 passa por Levi-Strauss. E, de certa forma, por "Claude Levi-Strauss" (2004, Canal Curta!, 16h, livre), o documentário de Jean José Marchand.

    Mas há também boa ficção hoje: "Riocorrente" (2013, 18h05, 14 anos) e "Tubarão" (1975, 19h40, 14 anos), ambos no TC Cult.

    Divulgação
    Créditos: Divulgação Legenda: Walmor Chagas em cena de "São Paulo Sociedade Anônima" ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    O ator Walmor Chagas em cena de "São Paulo S/A" (1965), filme dirigido por Luís Sergio Person

    SÁBADO (7)

    Em "São Paulo S/A." (1965, Canal Curta!, 15h30, 12 anos), o que vemos é a cidade de 1960. A indústria de automóveis se instala. Com ela, as autopeças, o progresso, o futuro... Já vemos ali o industrial vigarista (Otello Zeloni) oferecendo peças de má qualidade, seu gerente (Walmor Chagas) subornando os fiscais.

    A São Paulo que se vê é quase provinciana. O crescimento é em espiral, e os desajustes decorrentes são frequentes. Vive-se um mundo de garotas "de família" (Eva Wilma) ou perdidas (Darlene Gloria).

    Há uma via Anchieta ainda quase sem fábricas. Um centro com construções modernas. Já a rua onde mora Eva Wilma hoje deve estar cheia de prédios...

    Estranho: olhando o passado da cidade vemos o seu presente; nem por isso perdemos o sentimento do passado. O filme de Luís Sérgio Person é atual por representar exatamente sua época. É bem o que se pode chamar de um clássico moderno.

    Divulgação
    Cinema: o ator Jack Nicholson, em cena do filme "Chinatown" (1974), de Roman Polanski. (Foto: Divulgação) ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    O ator Jack Nicholson em cena de "Chinatown" (1974), filme dirigido de Roman Polanski

    DOMINGO (8)

    Nos anos 1970, quando vigorava nos EUA um espírito de nostalgia, "Chinatown" (1974, Paramount, 13h55, 12 anos) até poderia ser visto como mera retomada do antigo "film noir". Com efeito, a intriga que envolve o detetive J.J. Gittes remete aos anos do pós-guerra.

    O roteiro de Robert Towne tem todas as tintas do gênero, aliás: pessoas que contratam o detetive apenas para enganá-lo, mulheres fatais, sujeitos sórdidos por trás de tudo. Enfim, um saco sem fundo no qual o detetive entra quase por prazer.

    Ao contrário do "noir" clássico, aqui há cores. Mas as cores de John Alonzo são mortiças, como que anunciando não o renascimento, mas o final de um ciclo. E a direção de Roman Polanski consegue trazer ao ar da Califórnia algo de fétido, de corroído.

    O ritmo de Gittes também parece outro em relação aos antigos detetives: é mais lento, como se se movesse num pântano. O "noir" aqui é exacerbado e magnífico.

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