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    CRÍTICA

    'Geraldinos' resgata descontração das antigas 'gerais' de estádios

    ALEXANDRE AGABITI FERNANDEZ
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    03/05/2016 02h40

    Segundo o dicionário Houaiss, "geral" é aquela "parte de estádio, sem arquibancadas ou cobertura, de onde se assiste a jogo ou espetáculo em pé, ao nível do campo". Para designar os frequentadores da geral, o jornalista esportivo Washington Rodrigues cunhou a palavra "geraldino", também dicionarizada.

    Com o "padrão Fifa", a geral desapareceu de muitos estádios, notadamente do Maracanã, lar por excelência dos geraldinos durante 55 anos.

    O documentário de Pedro Asbeg e Renato Martins conta a história da geral, rende homenagem aos seus folclóricos frequentadores e se posiciona contra o fim desse espaço igualitário de convivência.

    Divulgação
    Cena do documentário "Geraldinos" ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Cena de 'Geraldinos' retrata a geral do Maracanã

    A primeira parte do filme mostra o comportamento dos geraldinos. Beneficiados pela proximidade com o gramado, esses torcedores participavam do espetáculo de forma muito mais intensa do que os que ficavam em arquibancadas ou cadeiras numeradas.

    A geral era uma festa. Participar significava gritar, cantar, xingar quem estivesse no gramado, pular, dançar, se jogar no chão, sofrer. Tudo com a paixão à flor da pele.

    Não era raro ver torcedores com esdrúxulas fantasias: de índio a figuras mascaradas. Ser geraldino era um estado de espírito. Alguns nem prestavam atenção no jogo, por superstição ou para melhor fruir aquela atmosfera única de liberdade que reinava na geral.

    Isso tudo influenciava os jogadores. Romário e Zico contam no filme que comemorar um gol diante da geral era um prazer único e também uma injeção de motivação.

    O tom muda radicalmente na segunda parte, que trata do fim da geral. Com a reforma do Maracanã, o espaço acabou em 2005. O estádio passou a oferecer mais conforto, segurança e facilidades aos frequentadores –o que repercutiu no preço dos ingressos, afastando boa parte dos geraldinos, que agora acompanham os jogos pela televisão. A atmosfera do estádio ficou menos espontânea.

    A elitização do futebol em nome de interesses econômicos não é exclusividade brasileira, mas o documentário aponta importantes irregularidades na reforma e na concessão à iniciativa privada desse bem público tombado pelo Iphan. A geral se foi, fica uma amarga nostalgia.

    GERALDINOS
    DIREÇÃO Pedro Asbeg e Renato Martins
    PRODUÇÃO Brasil, 2015, 12 anos
    QUANDO em cartaz

    Edição impressa

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