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    'Furacão político' no país fez Jô Soares interromper livro sobre presidente gay

    GUSTAVO FIORATTI
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    06/05/2016 02h08

    Antes de encenar "Histeria", o apresentador Jô Soares dedicava-se a escrever um livro que classificou como "espécie de sátira política". Ele afirma que a peça não tem nada a ver com o momento político brasileiro. E a criação da obra foi suspensa, ao menos por ora, também à espera de que os ânimos se esfriem.

    Jô adiantou o mote de sua ficção literária. O livro estava sendo criado em cima de um fato histórico fictício: a eleição simultânea de dois presidentes homossexuais –um no Brasil e outro nos EUA.

    O apresentador conta que, no romance, os dois governantes têm um caso. "A história começou a se desenvolver, mas daí resolvi parar porque, neste momento, acontece esse furacão político na história do Brasil. Parei, vamos ver como isso [o livro] continua... Ou se continua em um outro sentido", diz.

    Lenise Pinheiro/Folhapress
    O apresentador Jô Soares no teatro da Universidade Católica, o Tuca, em São Paulo
    O apresentador Jô Soares no teatro da Universidade Católica, o Tuca, em São Paulo

    Distanciar-se de comentários políticos, ao menos na face artística, é uma opção que segue momento de tensão criado em torno dos fatos: Jô Soares foi atacado severamente por ter entrevistado Dilma Rousseff em junho de 2015.

    Integrantes de movimentos que já na época começavam a pedir a cabeça da presidente reclamaram de condescendência no tom da conversa. Uma semana depois, picharam em frente à casa do apresentador "Jô Soares Morra".

    Mais recentemente, Jô repreendeu um espectador que, da plateia de seu programa na Globo, gritou "Fora, Dilma". "Aqui não há manifestações políticas nessa plateia. Nunca houve e nunca haverá", disse ele em resposta.

    LEI ROUANET E GLOBO

    A reação do movimento anti-Dilma levou sites de oposição a publicarem a falsa denúncia de que Jô teria "se vendido" ao PT, particularmente porque ele teve um projeto aprovado na lei Rouanet no valor de R$ 1,9 milhão para a realização da peça "Tróilo e Cressida", de Shakespeare.

    Jô considera esse tipo de denúncia uma "incompreensão" do que é o programa federal. "Trata-se de pedido de licença para captar recursos" via isenção fiscal.

    A produção da peça, diz, "acabou não captando nada". Ela seria feita na Fiesp, federação que assumiu posição contra o governo e cujo teatro é dedicado a peças populares.

    "O cara vem e fala: 'Jô ganhou não sei quanto do governo'. Primeiro que não produzo coisa nenhuma, e o dinheiro captado é para ser gasto em produção; depois, [o dinheiro] acabou nem saindo, pois é dificílimo captar."

    O apresentador também contou à Folha que a anunciada saída da Globo não vai "de forma alguma ser considerada uma aposentadoria" –seu programa de entrevistas deve deixar a emissora após 28 anos de exibição na TV.

    "Mas não tenho ainda nenhum projeto específico", afirma. "Eu sou muito imediatista, não consigo planejar, do tipo 'agora vou fazer isso e depois vou fazer tal coisa'."

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