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    crítica

    Com músicas 'de gaveta', disco do Radiohead une belos sons etéreos

    ANDRÉ BARCINSKI
    CRÍTICO DA FOLHA

    08/05/2016 16h58

    Algumas bandas são transparentes em sua música: você ouve o disco e entende de primeira as motivações, os dramas e o momento de vida dos músicos. Não é o caso do Radiohead. Quem tenta "entender" a banda por meio de seu trabalho vai penar.

    Para começo de conversa, as letras de Thom Yorke são extremamente pessoais e crípticas. Para dificultar ainda mais, a banda gosta de deixar músicas no armário por um bom tempo antes de lançá-las. Das 11 faixas de "A Moon Shaped Pool", lançado neste domingo (8), pelo menos cinco são tocadas em shows há algum tempo —uma delas, há mais de duas décadas.

    Reprodução
    Capa de 'A Moon Shaped Pool', novo disco do Radiohead
    Capa de 'A Moon Shaped Pool', novo disco do Radiohead

    "Burn the Witch" e "Daydreaming" já haviam sido lançados como "singles" e abrem o disco. A primeira é a música mais pesada do novo trabalho, com um arranjo orquestral intenso e sombrio. Já "Daydreaming" é lenta e lúdica, quase "ambient" de tão etérea.

    "Decks Dark" começa como uma balada atmosférica, cheia de efeitos eletrônicos, e emenda num mantra repetitivo e pesado que remete a bandas alemãs do krautrock como Neu! e Faust, amadas pelo Radiohead.

    assista ao clipe

    Yorke emula Nick Drake em "Desert Island Disk", uma balada de toques folk que ele havia apresentado em shows solo no fim de 2015. A letra parece falar de um "novo começo" após uma ruptura qualquer. Nas redes sociais, fãs especulam que a letra pode ter sido inspirada pelo fim do relacionamento de 23 anos com a namorada, Rachel Owens.

    "Full Stop" é uma beleza do início do fim, começando com uma levada eletrônica grave à Portishead e virando um trip-hop. Em 2012, Yorke disse aos fãs, depois de tocá-la em um show: "Assim como vinho, ela vai melhorar com o tempo".

    O disco cai um pouco nas três faixas seguintes. "Glass Eyes" é uma balada triste e sem brilho; "Identikit" —também tocada ao vivo há pelo menos quatro anos— soa excessivamente dramática, com um coral que beira a cafonice, e "The Numbers" tem uma letra de cunho "social" que parece ter sido escrita por um moleque de 12 anos: "Nós conclamamos o povo / o povo tem o poder / os números não decidem / seu sistema é uma mentira".

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    Felizmente o disco cresce no fim, com "Present Tense" (tocada ao vivo desde 2008), com sua sonoridade latina de percussão e violão, "Tinker Tailor Soldier Sailor Rich Man Poor Man Beggar Thief", que remete às trilhas sonoras que o guitarrista Jonny Greenwood fez para Paul Thomas Anderson, especialmente "O Mestre", e "True Love Waits", faixa conhecida de shows desde 1995 e que tinha saído apenas no EP ao vivo "I Might Be Wrong", de 2001.

    Sobre uma base de piano minimalista e repetitiva, Yorke canta, do ponto de vista feminino ("Eu abdico de minhas crenças / para ter um filho seu") uma letra triste sobre um caso que parece prestes a acabar.

    A MOON SHAPED POOL
    QUANTO: US$ 13 (cerca de r$ 45, versão digital) a us$ 86,50 (cerca de 305, caixa especial), em amoonshapedpool.com
    AUTOR: Radiohead
    AVALIAÇÃO: muito bom

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