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    Festival de Cannes começa sob alerta máximo de ataques do Estado Islâmico

    GUILHERME GENESTRETI
    ENVIADO ESPECIAL A CANNES

    11/05/2016 02h00

    "Mesdames et messieurs, por favor deixem o prédio sem correria", ordenava o alarme que disparou no Palais du Festival, sede do Festival de Cannes, na tarde de terça (10) –véspera da abertura da mostra de cinema mais importante do mundo.

    A causa era uma "falha técnica" e não houve tumulto para que o público (a maioria jornalistas) esvaziasse o palácio. Mas Cannes vive o temor de um alarme mais sério.

    Há pouco mais de 20 dias, as agências de inteligência da Alemanha e da Itália alertaram para o risco de ataques do Estado Islâmico em balneários europeus, incluindo a cidade francesa. Segundo fontes ouvidas pelas agências, jihadistas têm "planos concretos" de se disfarçar de refugiados vendendo produtos na praia.

    Paris viveu seu maior ataque terrorista, com mais de 130 mortos, há seis meses.

    O medo ronda o festival, que promete levar 200 mil pessoas à cidade. Na edição passada, quatro meses após os ataques ao "Charlie Hebdo", já houve reforço: cerca de 400 agentes da polícia federal francesa foram à ajuda da guarda municipal de Cannes.

    Agora mais de 500 seguranças extras foram convocados para a 69ª edição do evento e 500 câmeras foram instaladas na cidade. Nas estações de trem, soldados com metralhadoras e cães pouco amigáveis.

    Por razões de segurança, a Quinzena dos Realizadores, mostra paralela de Cannes, foi forçada a reduzir para 18 o número de filmes exibidos.

    E, talvez para não provocar tensões, um filme como "Paris Is Happening", de Bertrand Bonello, ficou de fora da corrida pela Palma de Ouro. O tema? Adolescentes terroristas.

    HOLLYWOOD

    Seja como for, Cannes tem em sua 69ª edição uma das programações mais pop de sua história. Passarão pelo tapete vermelho, na mostra competitiva ou fora dela, Woody Allen, George Clooney, Julia Roberts, Steven Spielberg, Kristen Stewart, Sean Penn, Marion Cotillard, Russell Crowe, Pedro Almodóvar, Shia LaBeouf, Javier Bardem, Ryan Gosling, Isabelle Huppert...

    Dos 21 competidores pela Palma de Ouro, muitos já passaram pela Croisette: o canadense Xavier Dolan, 27, que já foi premiado no festival por quatro de seus cinco filmes anteriores, retorna com "Juste la Fin du Monde", sobre um jovem escritor (Gaspard Ulliel) que volta à casa da família para anunciar a morte.

    Competem com ele os irmãos belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne, que já faturaram a Palma por "A Criança" (2005), agora por "La Fille Inconnue", sobre uma médica que busca a identidade de uma paciente que recusou o seu tratamento. Com "The Handmaiden", o sul-coreano Chan-wook Park promete repetir a violência de "Oldboy" (2003).

    A vizinha Itália, presença regular em Cannes, ficou de fora da competição principal. Mas a Romênia reafirma sua proeminência no cinema, colocando na mesma disputa dois de seus maiores cineastas da atualidade: Cristian Mungiu ("Bacalaureat") e Cristi Puiu ("Sieranevada").

    Diretor do aclamado "Drive" (2011), o dinamarquês Nicolas Winding Refn tenta a sorte com o terror "The Neon Demon", sobre uma aspirante a modelo perseguida por um estranho grupo de mulheres.

    RECIFE À FRANCESA

    Na disputa há o longa brasileiro "Aquarius", do pernambucano Kleber Mendonça Filho, diretor do elogiado "O Som ao Redor" (2012).

    Segundo Mendonça Filho disse à Folha, é uma obra sobre a "a importância do arquivo, que não é só físico, mas também emotivo". O arquivo é o apartamento da protagonista, viúva interpretada por Sonia Braga. Ela enfrenta uma construtora que planeja demolir o seu prédio, o último remanescente de seu estilo na praia de Boa Viagem, Recife.

    "Aquarius" quebra um regime de oito anos: "Linha de Passe" foi o último filme 100% brasileiro a disputar a Palma de Ouro, em 2008. Em 2012, concorreu "Na Estrada", também de Salles, mas a produção era multinacional: além de Brasil, tinha França, EUA, Reino Unido, Canadá e Argentina –e era falada em inglês.

    Para Mendonça Filho, "Aquarius" "ficará fora de controle", tamanha a vitrine que é o festival. "Tem que segurar o tranco, porque será muita exposição", afirma ele.

    *

    POUCAS DIRETORAS MULHERES... Entre os 21 filmes na competição, só três são dirigidos por mulheres: "American Honey", da inglesa Andrea Arnold, "Mal de Pierres", da francesa Nicole Garcia, e "Toni Erdmann", da alemã Maren Ade. Fora da disputa, tem o novo de Jodie Foster: "O Jogo do Dinheiro"

    ...MAS MUITAS MUSAS A Croisette vai disputar com o Oscar em número de atrizes hollywoodianas. Algumas delas: Julia Roberts ("O Jogo do Dinheiro"), Charlize Theron ("The Last Face"), Kristen Stewart ("Personal Shopper" e "Café Society"), Léa Seydoux e Marion Cotillard (ambas por "Juste la Fin du Monde")

    MEDALHÕES AMERICANOS... Woody Allen abre o festival com "Café Society", e Steven Spielberg retorna à sua verve juvenil com "O Bom Gigante Amigo". Sean Penn entrega seu quinto longa, o drama com tintas humanitárias "The Last Face". O indie Jim Jarmusch exibe dois: "Paterson" e "Gimme Danger"

    ...E MEDALHÕES EUROPEUS Os irmãos Dardenne exibem "La Fille Inconnue", o britânico Ken Loach roda mais um drama com pegada social, "I, Daniel Blake", e o espanhol Pedro Almodóvar volta à tragicomédia de cores berrantes com "Julieta"

    DA TERRA DO DRÁCULA... Os romenos terão presença marcante nesta edição, com dois dramas de família na competição: "Bacalaureat", de Cristian Mungiu, e "Sieranevada", de Cristi Puiu, além de um título na mostra Um Certo Olhar: "Dogs", de Bogdan Mirica

    ..À TERRA DO FREVO O Brasil volta a disputar a Palma de Ouro com "Aquarius", do pernambucano Kleber Mendonça Filho, que traz Sonia Braga no papel de uma viúva em pé de guerra com uma construtora que pretende demolir o prédio em que ela vive no Recife

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