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    Conheça Bibi Bourelly, a 'outsider' por trás de letras de Rihanna e Usher

    BIBI BOURELLY
    JOE COSCARELLY
    DO "NEW YORK TIMES"

    11/05/2016 17h03

    Reproducao/Instagram/bibibourelly
    A compositora Bibi Bourelly em foto publicada no Instagram
    A compositora Bibi Bourelly em foto publicada no Instagram

    "Higher", a canção mais forte do novo álbum de Rihanna, "Anti", é uma balada soul de dois minutos de duração sobre uísque, cigarros e telefonemas tarde da noite, composta, por acaso, por uma pessoa de 19 anos.

    Bibi Bourelly, que hoje tem 21, também foi responsável pelo single "Bitch Better Have My Money", sucesso de Rihanna em 2015, além de faixas lançadas no ano passado por Usher e Selena Gonez. É a chegada auspiciosa no cenário musical mainstream de uma compositora que tem orgulho de se proclamar outsider.

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    Mas os mesmos sucessos iniciais que posicionaram Bourelly para uma carreira viável como artista solo —seu primeiro EP, "Free the Real (Pt. #1)", foi lançado na sexta-feira pela Def Jam— também definiram critérios elevados para seu desenvolvimento.

    Enquanto nomes já respeitados garantiram o sucesso das canções de Bourelly, ela agora terá que criar sucessos por conta própria, apesar de suas composições ágeis e sua imagem de rebelde sincera desafiarem a categorização simplificada apreciada pelos profissionais de rádio e marketing.

    "Sou o tipo de pessoa que realmente quer existir e viver honestamente, simplesmente dizer o que tenho para dizer, ser quem eu sou e fazer o que eu quero", disse a compositora enquanto almoçamos em Manhattan, no dia do lançamento. "Felizmente e infelizmente, o que eu gosto requer —e produz— muito dinheiro."

    Seguindo o exemplo confessional de artistas autodidatas e de outros nomes em quem as grandes gravadoras andam apostando recentemente, incluindo Lorde, Halsey e Alessia Cara, Bourelly revela uma confiança tranquila em seu próprio trabalho e nenhuma fidelidade a gêneros musicais.

    Suas canções pop de três minutos geralmente têm base de guitarra e fundem cadências de hip-hop com a angústia existencial das cantoras-compositoras dos anos 1990. No single borbulhante "Sally", uma letra sobre "twerking" e pessoas que odeiam por preconceito é gritada sobre um fundo percussivo em clima de blues.

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    Essa mistura inovadora, mas nem sempre realizada tranquilamente, se evidenciou no evento Society Sessions de Bourelly. Trata-se de uma festa de estética underground promovida no subsolo renovado do antigo prédio do banco Williamsburgh Savings. Acompanhada de uma banda ao vivo composta de três roqueiros desgrenhados, Bourelly apresentou-se depois de um DJ que tocou sucessos recentes de Future e Drake.

    "Ego", lançada inicialmente no ano passado e que também está no EP, é a canção que mais bem ilustra o engajamento juvenil de Bourelly com o inconformismo: "Querem que eu seja esta garota perfeitinha / em um mundo perfeitinho / mas solto palavrões ao falar e me inclino ao andar". E é o que ela faz, pontuando suas canções e seu discurso com irreverência e alguns palavrões bem posicionados —e mais alguns, só para que fique claro.

    Quando Bourelly se flagra falando chavões insossos da indústria musical, ela se interrompe com o contrário: obscenidades autoirônicas proferidas em tom de brincadeira.

    Ela tem consciência do incômodo que sente em ser enquadrada por rótulos de gênero. "É fácil para todo o mundo fazer isso comigo, não apenas por minhas letras, mas por minha aparência —porque sou negra, sou honesta e sou emotiva", disse Bourelly, pedindo um Chardonnay depois do sushi. "O mundo vai me fazer isso, mas eu não vou fazer isso comigo mesma."

    De origem haitiana e marroquina, Bourelly cresceu entre Berlim —onde seu pai, o guitarrista Jean-Paul Bourelly, vivia quando não estava em turnê— e a área de Washington, onde ficava com um tio e uma tia. A frequência no colégio era uma dificuldade constante, e fazer faculdade nunca foi uma opção para ela, que ainda na puberdade já tinha decidido qual seria sua meta na vida.

    Enquanto ela estava em casa, na Alemanha, seu interesse adolescente por Beyoncé, Britney Spears e Jonas Brothers se somava ao amor de seu pai pelo jazz-fusion e A Tribe Called Quest. "Alternávamos dias no carro", contou Bourelly. "Foi assim que meu gosto se formou."

    Aos 19 anos ela se mudou para Los Angeles para trabalhar com um produtor que tinha conhecido no Facebook. Ali ela não demorou a encontrar um empresário cujos contatos (somados aos seus próprios demos convincentes) ajudaram a colocá-la numa sala com Kanye West e Rihanna.

    O lançamento de "Bitch Better Have My Money", em março de 2015, colocou o nome de Bourelly em circulação. Mas primeiro houve o ensaio de "Higher", título que hoje está tatuado no antebraço direito de Bourelly. "Essa canção mudou minha vida", ela explicou.

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    Mesmo assim, ela disse, o fato de ter feito sucesso inicialmente como compositora, na sombra, foi uma alegria ambígua. "Foi bacana porque, quatro meses depois de chegar a L.A., eu já estava compondo para uma das maiores artistas do mundo. Mas é difícil entregar minhas canções para outra pessoa."

    Em "Higher", Rihanna, na performance vocal que possivelmente seja sua melhor até hoje, encontra as fendas vocais emotivas que são a especialidade de Bourelly. A oportunidade deu à jovem compositora sua chance de marcar presença em um álbum importante, além de lhe proporcionar uma visão em primeira mão da operação necessária de uma grande estrela, com câmeras observando constantemente. "Eu precisava aprender como isso funciona nos bastidores para entender como ser artista", falou Bourelly.

    Por enquanto, ela está vivendo em um limbo estranho, tendo conhecido seus heróis, feito canções de sucesso e se apresentado no "The Tonight Show", mas ainda não se destaca sozinha.

    TRANSIÇÃO

    Esse período de transição pode criar várias dúvidas específicas para Bourelly, como decidir quando vai ser a hora certa de adquirir um segundo celular ("nem estou bombando o suficiente para usar um descartável") e se ela vai querer fazer turnê numa van ou num ônibus ("ainda será numa van", opinou seu empresário, Pete Dinero).

    Ela pretende lançar um segundo EP neste verão americano ("a resposta genérica é que são dois capítulos diferentes de minha vida, mas a verdade é que tenho canções demais, só isso", ela disse), seguido por um álbum ainda este ano ou no início de 2017.

    Ela já compôs mais de 300 canções, mas insiste que é a criação que a motiva, e não considerações sobre estratégia de carreira.

    "Vivo a vida para fazer canções", disse Bourelly. "Se vou a uma festa, é porque não tenho b* alguma sobre o que compor. Se falo com um cara novo é porque já me enchi do cara velho e já escrevi várias canções sobre ele."

    Quanto a tornar-se uma popstar plena, "é uma obra em progresso", ela disse. "Ainda não cheguei lá, mas não deveria mesmo ter chegado."

    Tradução CLARA ALLAIN

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