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    crítica

    Woody Allen faz seu filme mais complexo e radiante em 10 anos

    AMIR LABAKI
    EM CANNES

    12/05/2016 02h04

    Exibido nesta quarta-feira (11) na abertura do 69º Festival de Cannes, "Café Society" tem toda cara de testamento fílmico de Woody Allen. Pode não ser o último filme do diretor nova-iorquino. Espera-se que não seja. Mas mereceria ser. Woody não fazia algo tão bom desde, ao menos, "Match Point" (2005).

    "Café Society" é uma síntese do melhor de seu cinema, com um vigor há muito distante da obra do diretor.

    Há as trapaças da sorte, como em "Match Point". Os dilemas amorosos e a polaridade Nova York vs. Los Angeles, de "Annie Hall" (1977). O fascínio por Nova York, de "Manhattan" (1979).

    Woody Allen

    Também o amor pela Hollywood clássica, de "A Rosa Púrpura do Cairo" (1985). As querelas familiares, de "Hannah e Suas Irmãs" (1986) e "A Era do Rádio" (1987). A lista poderia prosseguir até o final desta resenha.

    O enredo parece saído de uma impossível colaboração entre F. Scott Fitzgerald, pelo retrato irônico da elite americana dos anos 1930, e Philip Roth, pela visão crítica às tradições da formação judaica.

    Um jovem do Bronx nova-iorquino, Bobby Dorfman (Jesse Eisenberg), decide tentar a sorte em Hollywood, pedindo emprego ao bem-sucedido tio Phil (Steve Carell), agente de estrelas como Irene Dunne e Joel McCrea.

    Ao mesmo tempo, o irmão de Bobby, Ben (Corey Stoll), ascende na carreira de gângster até abrir o próprio "night club" em Manhattan.

    Decepcionado com a vida hollywoodiana e com o coração partido por Vonnie (Kristen Stewart), Bobby retorna a Nova York e se reinventa como sócio da bem-sucedida boate do irmão.

    É como um misto de "Barton Fink" (1991), dos irmãos Coen, "O Último Magnata" (1976), de Elia Kazan, e "Os Bons Companheiros" (1990), de Martin Scorsese, que avança "Café Society", narrado pelo próprio Woody.

    Desde as parcerias com o diretor de fotografia Gordon Willis (1931-2014) nos anos 1970, um filme dele não enchia os olhos assim.

    Feito que Allen consegue agora graças à tradicional competência cenográfica de Santo Loquasto e à mágica luz alaranjada do diretor de fotografia Vittorio Storaro, emprestada do finado Néstor Almendros (1930-1992).

    Muito mais importante do que ser a melhor abertura de Cannes sob a batuta de Thierry Frémaux, diretor-geral do festival, "Café Society" confirma que, ao contrário do que sinalizou em seus últimos filmes, Woody Allen ainda tem lenha para queimar.

    Aos 80 anos, assina seu mais complexo e radiante filme na última década. O ano de 2016, afinal de contas, pode não ser tão ruim assim.

    CAFÉ SOCIETY
    DIREÇÃO: Woody Allen
    ELENCO: Blake Lively, Kristen Stewart, Jesse Eisenberg, Anna Camp e Steve Carell
    PRODUÇÃO: Estados Unidos, 2016

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