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    crítica

    Depoimentos desconcertantes conferem força a 'Nós, Eles e Eu'

    ALEXANDRE AGABITI FERNANDEZ
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    12/05/2016 02h46

    Quando passou três meses perambulando em Israel e na Palestina, em 2000, o argentino Nicolás Avruj registrou tudo com uma pequena câmera, mas não tinha a intenção de fazer um documentário. Tudo mudou em 2011, quando ganhou um concurso de roteiro e se viu obrigado dar forma àquelas imagens.

    Avruj viajou para Israel para fazer uma surpresa a um primo que estava morando lá. Ao chegar, soube que o primo tinha ido passar férias na Argentina. Decidido a esperar o retorno do parente, previsto para três meses depois, o cineasta sobreviveu fazendo bicos e pedindo alojamento.

    Avruj decidiu aproveitar a espera para saber mais sobre a realidade do país. Passou a registrar o cotidiano e as conversas que tinha com aqueles que o alojavam, tanto israelenses como palestinos (a estes, não mencionava sua condição de judeu). Nesses depoimentos sinceros –muitos deles urgentes e desconcertantes– reside a força do filme.

    Além de viver distante do conflito, que o impediu de conhecer a complexidade do problema e de ter uma visão pré-concebida, Avruj teve muita liberdade para se deslocar em Israel, inclusive pelos territórios ocupados, algo que só era possível antes dos atentados de 11 de setembro e da Guerra do Iraque.

    Divulgação
    Cena do documentário 'Nós, Eles e Eu'
    Cena do documentário 'Nós, Eles e Eu'

    Membro de uma família judaica progressista, dado já explicitado na primeira cena do filme, ele consegue manter uma difícil equidistância em relação aos dois lados.

    Mostra como os israelenses sofrem com o terrorismo palestino, mas não se furta a mostrar a realidade dos palestinos, que vivem em péssimas condições na Faixa de Gaza, são reprimidos pelo Exército israelense e obrigados a suportar a invasão de suas terras na Cisjordânia e a destruição de suas casas para a construção de colônias israelenses.

    Nessas entrevistas, Avruj ouve pacifistas e belicistas, militantes, cidadãos comuns, gente lúcida e fanática. Não julga ninguém, não toma partido, não oferece soluções. A voz "off" do diretor conduz a narrativa na forma de um diário e, em meio a dúvidas, perplexidades, explicita a única posição que Avruj faz questão de deixar clara: seu antibelicismo e sua esperança por uma mudança pacífica.

    Viagem iniciática, relato de aprendizagem sem preconceitos, mergulho corajoso e honesto num mundo em que o "outro" não tem lugar, o documentário traz uma constatação amarga: a situação do conflito é ainda mais grave hoje do que naquela época.

    NÓS, ELES E EU
    (Ney: Nosotros, ellos y yo)
    DIREÇÃO: Nicolás Avruj
    PRODUÇÃO: Argentina/Israel/Palestina, 2015, 12 anos
    QUANDO: estreia nesta quinta (12)

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