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    crítica

    Extraído à força de um jogo para celular, 'Angry Birds' funciona

    CHICO FELITTI
    COLUNISTA DA FOLHA

    12/05/2016 02h11

    Passarinho, que som é esse? É o som de uma franquia arrancada a fórceps de um jogo de celular transformado em filme, se estivermos falando de "Angry Birds: O Filme", que estreia nesta quinta (12) em mais de mil salas do país.

    Um dos aplicativos pagos mais bem-sucedidos da história, "Angry Birds" chegou a valer US$ 6 bilhões com uma lógica simples: o jogador tinha de catapultar pássaros para cima de porquinhos verdes e malignos. Virou parque de diversões antes de virar filme.

    O intervalo de sete anos entre o jogo e o do filme foi tão longo porque o projeto foi apreciado como deveria, disse a empresa –ocultando o sucesso de outro filme nascido dos brinquedos, "Lego", de 2014.

    A espera valeu, pelos olhos. Esteticamente o filme é primoroso. Os cenários são vivazes e complexos e os personagens têm um acabamento superior ao de concorrentes como Pixar –obra de Clay Katis e Fergal Reilly, que animaram para Disney e Warner antes de ir ciscar no novo projeto.

    O uso de 3D quase parece ser para outro intuito que não dobrar o valor do ingresso, em sequências como a em que os personagens fazem nado sincronizado. Mas era de se esperar beleza na computação gráfica de uma firma que nasceu fazendo computação gráfica.

    Divulgação
    As aves protagonistas da animação 'Angry Birds: O Filme'
    As aves protagonistas da animação 'Angry Birds: O Filme'

    O perigo morava em como criar uma história para um jogo nonsense sem narrativa. Mas o roteiro de Jon Vitti ("Simpsons") consegue fazer uma corda bem trançada a partir do fiapo de história que era o joguinho para telefones.

    Em vez de encaixar a história na lógica simples (e viciante) da brincadeira, a produção optou por dar mais espaço para o mundo dos pássaros e suas personalidades.

    O protagonista Red poderia ser um tipo de carne e osso, com sua histeria escondida sob sobrancelhas de Monteiro Lobato. Com comportamento e preocupações humanas, as aves se deparam com mazelas contemporâneas como glúten, selfies e ser VIP em festas. Tanto que o conflito que culmina na ação do jogo fica restrito ao terço final do filme –e não é seu melhor momento.

    As dublagens em português funcionam na maioria dos casos. Fábio Porchat parece ter encontrado seu melhor papel no cinema na sua versão com penas: Chuck é um pássaro alucinado que não consegue segurar sua franga. Cada piada e berro do humorista mais workaholic do entretenimento nacional provoca risos.

    O mesmo não vale para Dani Calabresa, que parece subaproveitada como Matilda, a professora galinácea do curso de autoajuda para controle de raiva a que o protagonista é condenado depois de um quase infanticídio acidental.

    Cacos como colocar bordões do apresentador Fausto Silva na boca de um dos porcos também são bem-vindos, e pontas de erotismo disfarçado garantirão risadas de pais que ficam fora do alcance do público infantil.

    ANGRY BIRDS: O FILME
    DIREÇÃO: Clay Kaytis, Fergal Reilly
    PRODUÇÃO: EUA, 2016, livre
    QUANDO: estreia nesta quinta (12)

    Edição impressa

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