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    MPB4 celebra em show e CD com inéditas seus 50 anos de democracia

    THALES DE MENEZES
    DE SÃO PAULO

    13/05/2016 02h33

    Numa semana de ebulição política, é curioso ver o MPB4 fazendo três shows. Porque poucos grupos tiveram carreiras tão atreladas a posições políticas claras, assertivas.

    O DNA do quarteto é responsável por esse perfil. Aquiles Reis, Miltinho, Magro Waghabi (1943-2012) e Ruy Faria formaram o grupo em 1965 no Centro Popular de Cultura, ligado à União Brasileira dos Estudantes.

    Populares desde os anos 1960, quando acompanharam Chico Buarque em um festival com o clássico "Roda Viva", os quatro construíram uma discografia que serve como termômetro da MPB, gravando regularmente canções de Chico, Ivan Lins, João Bosco e outros.

    O grupo mostra de sexta (13) a domingo (15), no Sesc Vila Mariana, em São Paulo, alguns sucessos e seis músicas do novo e comemorativo CD "MPB4 50 Anos - A Vida, o Sonho, A Roda Viva".

    "A gente convidou os amigos para que mandassem inéditas. Chegou uma porção", conta à Folha Aquiles, 67. "Cada um pegou aquele balaio e escolheu as suas preferidas. As que tiveram quatro votos entraram automaticamente. Depois, quase completamos o disco com as que receberam três votos."

    Cristina Granato/Divulgação
    Aquiles, Dalmo, Miltinho e Paulinho Pauleira, membros do MPB4
    Aquiles, Dalmo, Miltinho e Paulinho Pauleira, membros do MPB4

    Para fechar as 13 canções gravadas, eles fizeram um segundo turno entre as faixas que tinham recebido duas menções. "Num momento como este, a gente ainda consegue fazer algum exercício de democracia", brinca Aquiles. "O MPB4 sempre foi de muita votação", diz Miltinho, 72.

    Os dois lembram que muitos amigos enviaram músicas, como Zeca Baleiro, Arlindo Cruz e Ivan Lins, e não entraram. "Eu fui o que teve o menor número de preferidas na edição final, mas não tenho queixas. A seleção foi acertadíssima", rende-se Aquiles.

    Os arranjos do novo álbum são de Miltinho e Paulo Malaguti, 56, o Paulinho Pauleira, que entrou no grupo em 2012, após a morte de Magro.

    Miltinho fala sobre o trabalho: "Magro era diretor musical, nosso mentor. Era quem mais conhecia música. Eu fazia arranjos esporádicos".

    Aquiles acha que a tarefa motivou muito Paulinho. "Ele começou a caprichar para cacete. Brincava que ele tinha virado arranjador de sítio!"

    Ele explica a piada. "Sabe como é, o cara não tem muito o que fazer e vai para um sítio arranjar as músicas. Aí faz, refaz, refaz de novo. É o que chamo de arranjo de sítio."

    FRESCOR

    Aquiles acredita que o álbum traz um frescor para o som do quarteto, que se completa com Dalmo Medeiros, que entrou em 2004, quando Ruy decidiu largar o grupo.

    "Lógico que teriam de ser diferentes daqueles arranjos que o Magro fazia. E ficou muito diferente. É bom chegar a 50 anos de estrada com um novo momento do MPB4."

    Nos shows em São Paulo, o repertório trará muito da apropriação do cancioneiro de Chico Buarque, com "Roda Viva", "Almanaque" e "Cálice", além de outros artistas como Guinga, do qual cantam "Conversa com o Coração".

    Depois, o show terá temporada no Rio, e ainda neste ano será gravado um DVD ao vivo, projeto do Canal Brasil.

    Sobre o cenário político, os dois fundadores do MPB4 tecem análises entristecidas.

    Para Aquiles, "é um momento muito infeliz a deposição de uma presidente da República. O que aconteceu não justifica o impedimento. Corremos o risco de uma grande crise inconstitucional."

    "Desde o início tínhamos unidade de pensamento, nos conhecemos no Centro Popular de Cultura. O MPB4 fez carreira sob opressão da ditadura", lembra Miltinho.

    "É uma decepção ter chorado de alegria pela chegada de Lula ao poder e ir seguidamente se decepcionando, até chegar aqui. A gente é contra o golpe. Não existem dados para criminalizar a presidente", diz Miltinho. "Sinceramente, esses dois anos que restam para as próxima eleições, e tomara que elas venham, não apresentam uma situação boa para o país."

    MPB4 50 ANOS
    QUANDO sex. (13) e sáb. (14), às 21h; dom. (15), às 18h
    ONDE Sesc Vila Mariana, r. Pelotas, 141, tel. (11) 5080-3000
    QUANTO de R$ 12 a R$ 40
    CLASSIFICAÇÃO 16 anos

    MPB4 50 ANOS - A VIDA, O SONHO, A RODA VIVA
    ARTISTA MPB4
    GRAVADORA Selo Sesc
    QUANTO R$ 20 (CD)

    Edição impressa

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