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    Chico Buarque encontra trecho inédito da canção 'Meu Caro Amigo' em carta

    FABIO BRISOLLA
    DO RIO

    13/05/2016 18h38

    Diante da câmera, Chico Buarque relê a carta que havia escrito em 20 de julho de 1975 para o diretor teatral Augusto Boal e se depara com um trecho inédito da música "Meu Caro Amigo".

    Ele recita os versos finais da letra que se perderam no tempo: "Meu caro amigo eu sei que é triste a situação/ Sei que a saudade está danada/ Mas se você quiser a minha opinião/ Você não está perdendo nada".

    Ao concluir a leitura, ele faz uma pausa e depois comenta, surpreso, sobre a parte excluída da canção: "Engraçado essa estrofe aqui, que nunca... Sobrou, é, sobrou."

    Meu Caro Amigo

    O vídeo com o depoimento de Chico Buarque foi gravado por Laura Liuzzi para a exposição "Meus Caros Amigos - Augusto Boal: Cartas do Exílio", que ficará em cartaz no Instituto Moreira Salles entre os dias 4 de junho e 21 de agosto.

    Nos anos em que esteve exilado fora do Brasil, Boal trocou centenas de cartas com familiares e amigos, como Fernanda Montenegro, Darcy Ribeiro, Millôr Fernandes e Chico Buarque. A exposição vai apresentar entre 30 e 40 correspondências deste período, além de fotografias e cartazes de peças apresentadas por Boal no exterior.

    "O Chico releu esta carta pela primeira vez ao gravar este depoimento, mais de 40 anos depois. E ali se emocionou ao recordar a história, além de ter esta surpresa", disse o poeta Eucanaã Ferraz, curador da exposição no IMS.

    O texto sobre o vídeo, escrito pelo jornalista Alfredo Ribeiro e publicado no blog do IMS nesta quinta (12), viralizou pelas redes sociais.

    Durante a pesquisa para a mostra, Cecília Boal, viúva de Augusto Boal (1931-2009), localizou também uma fita cassete enviada por Chico.

    Naquela época, o presente foi entregue pela irmã de Boal que viajou a Portugal para encontrá-lo.

    "Ela (a irmã de Boal) disse ao chegar: 'Chico mandou uma carta para você'. Quando ele abriu o envelope, tinha uma fita cassete", lembrou Cecília.

    Boal pegou um pequeno gravador que tinha em casa e botou a fita.

    "Achamos que era uma mensagem do Chico. Mas, para nossa surpresa, era uma música", disse Cecília.

    O diretor teatral estava reunido em casa com alguns amigos, entre eles, o educador Paulo Freire.

    Todos ouviram em primeira mão a gravação caseira de "Meu Caro Amigo" na voz de Chico Buarque e com Francis Hime ao piano.

    "Foi extraordinária a emoção daquele momento", recordou Cecília, que também incluiu este registro na exposição do Instituto Moreira Salles.

    O tal amigo da música consagrada do repertório de Chico Buarque era Augusto Boal.

    E, na sala de estar do apartamento alugado em Lisboa, a gravação começou assim: "Meu caro amigo, me perdoe, por favor/ Se eu não lhe faço uma visita/ Mas como agora apareceu um portador/ Mando notícias nessa fita".

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