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É preciso uma grande dose de coragem para se envolver em locais tão distintos e tão no limite da fé religiosa como fez Marina Abramovic em 2013, em uma imersão radical no Vale do Amanhecer, no Distrito Federal, e em processos xamânicos, em Curitiba.

A mera descrição em palavras da trajetória da artista faria rir qualquer leitor com um mínimo de senso crítico.

Contudo, quem assistir a "Espaço Além -, Marina Abramovic e o Brasil" vai perceber não só uma grande coerência entre a carreira da artista e os rituais que ela visitou no país, como poderá admitir que o percurso que se vê no documentário faz muito sentido.

Desde os anos 1970, Abramovic se tornou a grande artista da performance: cortou seu corpo dezenas de vezes e, entre 1976 e 1988, viveu com o alemão Ulay, realizando algumas das ações mais radicais da história da arte, como passar horas gritando um para outro ou permanecer sentados, frente a frente, sem dizer nada por horas.

Em toda performance, Abramovic busca, a partir do seu corpo, sair de um estado anestesiado ao qual o ser humano é submetido há séculos.

	Divulgação
	Cena do filme 'Espaço Alem', documentário sobre viagens de Marina Abramovic pelo Brasil

Pois esses "espaços de poder", como ela descreve os locais espiritualizados que visita, têm muito de suas próprias ações, seja nos cortes da navalha de João de Deus, seja nas festas de candomblé.

No entanto, não se trata de um documentário convencional. A direção de Marco del Fiol é suficientemente audaz para realizar um filme que também é uma experiência.

Uma das sequências que melhor exemplifica isso é quando Abramovic toma ayahuasca. As imagens ganham outra velocidade, como se o mundo saísse do padrão.

Ao final, "Espaço Além" revela um misticismo subterrâneo e marginal, que foi tema para tantos outros artistas, mas que com a produção alcançam uma dignidade que não se alcança pela razão.

ESPAÇO ALÉM - MARINA ABRAMOVIC E O BRASIL
DIREÇÃO: Marco del Fiol
PRODUÇÃO: Brasil, 2016
QUANDO: estreia na quinta (19)