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    Em Cannes, brasileiro transforma exibição de documentário em protesto

    RODRIGO SALEM
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM CANNES

    17/05/2016 02h10

    O primeiro longa brasileiro na seleção oficial de Cannes, o documentário "Cinema Novo", de Eryk Rocha, 38, foi exibido nesta segunda (16) durante a mostra não competitiva Cannes Classics.

    Em uma sala formada em sua maioria por brasileiros, incluindo Manoel Rangel, presidente da Agência Nacional do Cinema (Ancine), o cineasta aproveitou a apresentação para criticar o afastamento da presidente Dilma.

    "A geração [do Cinema Novo] tinha uma grande paixão pelo cinema e pelo Brasil e viveu um momento muito fecundo da cultura brasileira", discursou o filho de Glauber Rocha (1939-1981), um dos grandes nomes do movimento cinematográfico em vigor no Brasil entre as décadas de 1960 e 1970.

    Divulgação
    " Cinema Novo ", de Erykm Rocja foto: Divulgacao ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Cena de 'Cinema Novo', documentário dirigido pelo brasileiro Eryk Rocha e exibido em Cannes

    "Mas também foi uma geração que viveu um momento sombrio da história do Brasil, que vivenciou um golpe militar e todos os desdobramentos de uma ditadura. E o Brasil está vivendo uma nova interrupção do processo democrático."

    Apesar de a plateia na sala Buñuel não demonstrar nenhuma reação mais exaltada, Rocha seguiu criticando a situação política brasileira.

    "É um momento muito triste e trágico do país. Nunca imaginei que estaria vivendo esse momento e queria dizer que a história é feita de lutas, e a gente vai lutar. Cada um a sua maneira, como o cinema", finalizou ele ao lado do produtor Diogo Dahl e do diretor artístico de Cannes, o francês Thierry Frémaux.

    A projeção de "Cinema Novo" começou logo depois e se mostrou difícil para várias pessoas da plateia, que se retiraram durante a exibição. Sem concessões, o documentário é mais uma colagem de cenas dos filmes mais conhecidos do movimento, como "Cinco Vezes Favela" (1962), "Deus e o Diabo na Terra do Sol" (1964) e "A Falecida" (1965), quase nenhum deles com identificação –transformando a experiência ainda mais difícil.

    O longa-metragem se utiliza da narração dos próprios integrantes do Cinema Novo para tentar contextualizar o movimento, adotado mais pela intelectualidade da Itália e da França que do Brasil.

    Num momento, o diretor Cacá Diegues apresenta o grande paradoxo do grupo, que achava estar produzindo cinema popular, mas que nunca alcançava popularidade.

    O filme, no entanto, não se preocupa em explorar essa dicotomia nem apresenta outros recursos documentais que possam dar mais relevância às sensacionais imagens escolhidas por Rocha e aos depoimentos raros dos diretores brasileiros na época.

    Na segunda metade do filme, quando entra no paralelo da produção com a chegada dos militares ao poder, "Cinema Novo" ganha fôlego. Mas, de tão hermético, o esforço que exige é grande.

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