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    'Rico' e 'cativante', 'Aquarius' recebe enxurrada de elogios internacionais

    DE SÃO PAULO

    17/05/2016 16h21

    Uma metáfora sobre o Brasil da corrupção e do cinismo, além de um denso retrato de sua personagem principal, "Aquarius", filme de Kleber Mendonça Filho, é uma "rica e misteriosa" história de desintegração social, na avaliação do jornal britânico "The Guardian".

    O filme, único brasileiro na disputa pela Palma de Ouro, recebeu uma enxurrada de elogios da imprensa internacional após sua exibição no Festival de Cannes, nesta terça-feira (17).

    A crítica de Peter Bradshaw, do "Guardian", dá quatro estrelas (de um total de cinco) ao longa. Para o autor do texto, o filme peca apenas ao recorrer, no fim da trama, a um certo "deus ex machina" —expressão que define uma resolução inverossímil a um problema dramático.

    O também britânico "The Telegraph" diz que "Aquarius" fará qualquer um querer se mudar para o Brasil e destaca a atuação de Sonia Braga, que vive Clara, uma crítica de música aposentada e viúva às turras com uma construtora com planos de demolir o prédio em que ela vive.

    "Braga foi presenteada com um papel denso e multifacetado, e ela mergulha nele com maestria brilhante, leonina, investindo no personagem com uma dignidade duramente conquistada", afirma a publicação.

    A revista "Variety", uma das mais importantes da indústria cinematográfica dos EUA, também elogia o trabalho da atriz, a quem classifica como "incomparável", e define Mendonça Filho como "uma nova importante voz do cinema brasileiro", que sabe dominar os espaços em cena em é um "mestre" no trabalho com os sons.

    "'Aquarius' é um estudo de personagem, bem como uma reflexão perspicaz sobre a transitoriedade desnecessária de lugares e da forma como os espaços físicos refletem em nossa identidade."

    A publicação prevê ainda que o longa provavelmente será aclamado em festivais pelo mundo, mas poderá sofrer resistência de distribuidores por causa de seu tempo de duração —duas horas e 25 minutos.

    "Aquarius" tem um tom mais arejado que "O Som ao Redor" (2013), primeiro longa-metragem de ficção do diretor que o alçou ao alto escalão do cinema nacional, na opinião da americana "The Hollywood Reporter".

    O filme pode decepcionar os que esperam por uma estética experimental, como a de seu antecessor, mas é "cativante" e "funciona melhor" como um retrato de personagem sério e versátil, segundo a revista.

    APLAUDIDO

    Em Cannes, "Aquarius" teve sua primeira exibição na sala Bazin —espaço menor do que os outros em que os filmes da competição em geral são projetados. Ao final, o longa foi aplaudido pelos jornalistas que lotaram o local.

    A participação brasileira no festival foi marcada ainda pelo protesto feito pela equipe do longa no tapete vermelho contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT).

    A nova produção de Mendonça Filho guarda elementos de "O Som ao Redor": a discussão sobre o espaço físico (público e privado), as diferenças de classes sociais (no novo filme evidenciadas na personagem vivida por Zoraide Coleto, empregada doméstica de Clara), a cuidadosa construção sonora.

    Mas o novo filme concentra na protagonista vivida Clara toda a dramaturgia -é ela, e não um círculo de personagens como no longa anterior, a escolhida para dar voz ao mote da história: um libelo sobre a memória das coisas.

    "Aquarius" compete com outros 20 títulos pela Palma de Ouro. Entre seus mais fortes concorrentes estão os elogiados "Paterson", do diretor americano Jim Jarmusch, e a comédia alemã "Toni Erdmann", de Maren Ade.

    A última vez que o Brasil disputou o prêmio foi em 2012 com "Na Estrada", coprodução com outros países dirigida por Walter Salles. Esse cineasta também competiu em 2008 por "Linha de Passe", codirigido por Daniela Thomas -Salles, aliás, é produtor de "Aquarius".

    O Brasil ganhou a Palma de Ouro uma vez: em 1962, por "O Pagador de Promessas", de Anselmo Duarte.

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