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    CRÍTICA

    'Julieta' é o mais crispado ensaio de Almodóvar sobre maternidade

    AMIR LABAKI
    EM CANNES

    18/05/2016 02h00

    "Julieta", de Pedro Almodóvar, confirmou que os mais sólidos concorrentes à Palma de Ouro 2016 se estruturam em narrativas minimalistas. Foi assim com "Paterson", de Jim Jarmusch e, pela primeira vez, o é para o espanhol.

    Da extravagância que acompanha a assinatura almodovariana, resta aqui quase nada, além de um papel secundário de governanta para Rossy de Palma, e sobretudo da exuberância de sua paleta de cores nas roupas e nos cenários, azul e vermelho dominando nos enquadramentos.

    "Julieta" talvez seja o mais sóbrio título de sua filmografia, trazendo de volta o registro de um díptico maior: "Tudo Sobre Minha Mãe" (1999) e "Fale Com Ela" (2002).

    Divulgação
    Emma Suarez em cena do filme "Julieta", de Pedro Almodovar, que participa da competicao do Festival de Cannes 2016 FOTO Divulgacao ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Emma Suárez em cena do filme "Julieta", de Pedro Almodóvar, que participa da competição de Cannes

    A maior sobriedade não é contudo acompanhada em "Julieta" pelo rigor daquelas duas obras-primas. Aqui e ali, escorregadelas para o didatismo nos diálogos e nas opções no enredo abrem brechas na inteligência tradicional do melhor Almodóvar. Mas, reconheça-se, ei-lo plenamente recuperado do embaraço de seu filme anterior, "Os Amantes Passageiros" (2013).

    Baseado em três contos de "A Fugitiva", de Alice Munro, "Julieta" faz Almodóvar retornar ao universo quase exclusivamente feminino que o celebrizou. Três encontros com o trágico desviam o destino da personagem-título, uma professora de literatura vivida em idades distintas por Emma Suárez e Adriana Ugarte.

    Ao centro de tudo gira o mistério do desaparecimento voluntário aos 18 anos de sua filha Antía. Uma das leituras possíveis de "Julieta" é como o mais crispado ensaio de Almodóvar sobre seu recorrente tema da maternidade.

    Não à toa ele renuncia provisoriamente ao humor e abraça a tragédia. Talvez porém o tenha feito com um grau a mais de explicitude. Mas não seria o exagero, em qualquer tom, a marca por excelência de Almodóvar?

    JULIETA
    DIREÇÃO Pedro Almodóvar
    ELENCO Adriana Ugarte, Emma Suárez e Rossy de Palma
    PRODUÇÃO Espanha, 2016

    Edição impressa

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