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    Monólogo revisita as memórias do cenógrafo paulistano Flávio Império

    GUSTAVO FIORATTI
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    27/05/2016 02h20

    Quando começou a pesquisar sobre Flávio Império (1935-85) para a peça "Réquiem para um Amigo da Multidão", o ator Nei Gomes descobriu que pinturas, maquetes, figurinos do artista estavam "todos espalhados por aí". Na casa do diretor Zé Celso havia obra. Na da pesquisadora Maria Thereza Vargas, também.

    Império "tinha essa generosidade que era uma coisa de louco. Presenteou um monte de gente com seus trabalhos", diz Gomes. Ele escreveu a peça e, sob direção de Renata Zhaneta, também assume o papel no monólogo, que estreia no teatro Flávio Império, depois roda por outras salas municipais.

    O cenário todo branco, assim como o figurino, dá um toque "mediúnico" para a peça, diz o ator, sinalizando uma dose de humor. Ele não quer "receber" nenhuma alma penada em cena, diz. O sentido de um "réquiem", lembra o artista, é de uma música que associa "a figura dos mortos" a um momento de paz.

    Lenise Pinheiro/Folhapress
    Sao Paulo, SP, Brasil. Data 22-05-2016. Espetaculo Requiem para um Amigo da Multidão. Ator Nei Gomes. Teatro Flavio Imperio. Foto Lenise Pinheiro/Folhapress
    O ator e autor do monólogo Nei Gomes

    Ao mesmo tempo, Gomes aponta uma contradição na palavra que escolheu para o título. "Império era alguém que não se dava descanso nunca." O ator vê inquietação na pluralidade de uma obra que se dedicou à arquitetura, ao teatro, à cenografia, às artes visuais e ao cinema.

    "Se você falasse, 'Flávio, vamos fazer um filme?'. Ele responderia: 'E porque não?'", afirma. A produção de Império na sétima arte é frequentemente documental.

    Nos anos 1970 ele se interessou pelas possibilidades da câmera super-8 e dirigiu filmes como "A Pequena Ilha da Sicília" (1975), sobre as transformações urbanas provocadas pelo capital imobiliário no bairro paulistano do Bexiga.

    A opção pelo excesso de branco em cena, contudo, tem mais de uma explicação. A superfície clara permite projeções espalhadas por todos os cantos, o que o possibilita criar um clima de delírio permanente aos encenadores.

    A peça retrata dez dias antes da morte de Império por complicações decorrentes da Aids. Ele está em um hospital e é bombardeado com suas próprias memórias.

    Outros personagens célebres do círculo do artista surgem em vídeo. Daniela Giampietro faz Cacilda. Osvaldo Hortêncio, Walmor Chagas.

    RÉQUIEM PARA UM AMIGO DA MULTIDÃO
    TEATRO FLÁVIO IMPÉRIO r. Prof. Alves Pedroso, 600, tel. (11) 2621-2719; dias 27 a 29/5 e 24 a 26/6, sex. e sáb., às 20h, dom., às 19h.
    TEATRO ALFREDO MESQUITA av. Santos Dumont, 1.770, tel. (11) 2221-3657; dias 3 a 5/6, sex. e sáb., às 21h, dom., às 19h
    TEATRO LEOPOLDO FRÓES r. Antonio Bandeira, 114, tel. (11) 5541-7057; dias 10 a 12/6, sex. e sáb., às 20h, dom., às 19h
    TEATRO CACILDA BECKER r. Tito, 295, tel. (11) 3864-4513; dias 17 a 19/6, sex. e sáb., às 21h, dom., às 19h
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