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    crítica

    Personagens se agigantam em retrato do sindicalismo do ABC

    NELSON DE SÁ
    DE SÃO PAULO

    27/05/2016 02h22

    Era um tema quase inevitável para a Cia. do Latão, do autor e diretor Sérgio de Carvalho. Desde "Paraíso Perdido", que ele escreveu e Antônio Araújo dirigiu há duas décadas, o idealismo –em oposição ao realismo– é alvo preferencial de crítica de seu grupo.

    A sombra de Lula, ainda que ele não surja como personagem em "O Pão e a Pedra", está em cena o tempo todo. É em torno de sua imagem, da dependência dela para que algo mude, que corre "O Pão e a Pedra".

    A greve de 1979 no ABC serve de alegoria para o que se vive hoje, no país. Acompanha a reação de personagens diversos, trabalhadores da Volkswagen e o carisma do líder, evitado, ao que parece porque o excesso de luz sobre ele arriscaria apagar tudo mais.

    Foto Lenise Pinheiro/Folhapress
    Sao Paulo, SP, Brasil. Data 11-05-2016. Espetáculo O Pao e a Pedra. Atrizes Sol Fraganello (esq) e Helena Albergaria (dedo apontado). Tusp. Foto Lenise Pinheiro/Folhapress
    As atrizes Sol Fraganello (esq.) e Helena Albergaria durante ensaio da peça 'O Pão e a Pedra'

    O coração da peça é o momento em que os peões, conscientes ou não, aceitam a derrota. Eles o fazem para garantir a sobrevivência da liderança, da organização –que de fato retornaria com um movimento maior e vitorioso.

    O operário se deixa representar por ele, entra em comunhão com Lula, num ato idealista já destacado noutros documentários e filmes de ficção.

    "O Pão e a Pedra" encena um questionamento disso, pela voz dos trabalhadores, mas é ricamente contraditório e dramático, em parte devido ao novo momento, em que o líder está outra vez acuado.

    Numa peça que confirma o amadurecimento de Carvalho como dramaturgo e encenador, alternam-se harmoniosamente drama e comédia, trechos musicais e contendas políticas. Diálogos e personagens vão ganhando densidade, e alguns se agigantam.

    É o caso da estudante tornada metalúrgica representada por Sol Faganello que deixa para trás -ainda que não de todo- o radicalismo romântico e juvenil do início.

    Outro é o operário mais velho e cético de Ney Piacentini, que já viu tudo dar errado, mas se reanima. Também o peão característico de Rogério Bandeira, ao mesmo tempo emotivo e grosseiro, que aprende a conviver com companheiros e companheiras.

    Fiel à tradição do teatro político, "O Pão e a Pedra" ao final é quase uma convocação, como já indicava o título, tirado da Bíblia, outra aparente contradição: "Quem dentre vós dará uma pedra a seu filho, se este lhe pedir pão?".

    O PÃO E A PEDRA
    QUANDO qui. a sáb., às 19h30; dom., às 18h
    ONDE Tusp, r. Maria Antônia, 294, tel. (11) 3123-5233
    QUANTO R$ 20
    CLASSIFICAÇÃO 18 anos

    Edição impressa

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