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    Moda

    Louis Vuitton foge da caricatura brasileira em desfile apoteótico

    PEDRO DINIZ
    ENVIADO ESPECIAL A NITERÓI (RJ)

    30/05/2016 02h23

    São poucas as marcas que procuram resumir o Brasil em roupas sem cair no escopo do samba, da caipirinha e da flora nacional. Não foi o caso da coleção "cruise" 2017 –espécie de linha intermediária entre as principais de inverno e verão– da grife francesa Louis Vuitton.

    Em um desfile apoteótico realizado no último sábado (28), na área externa do Museu de Arte Contemporânea de Niterói, no Rio de Janeiro, a grife fundiu a própria estética à de signos da cultura brasileira, do esporte aos parangolés coloridos do artista plástico carioca Hélio Oiticica (1937-1980).

    Quase 500 convidados –fora a plateia, que acompanhou o movimento da sacada dos prédios ao redor do MAC– aplaudiram quando o francês Nicolas Ghesquière, 45, um dos mais incensados da indústria da moda, desceu a rampa do museu no final do desfile.

    INHOTIM

    Para compor as roupas, Ghesquière visitou, meses antes da apresentação, o museu Inhotim, em Brumadinho (MG), pontos turísticos de Brasília e do Rio, e uma mostra do Masp, em São Paulo, na qual roupas estampadas por artistas plásticos brasileiros nos anos 1960 revelavam a arte nacional.

    O formato pipa das tendas usadas por Oiticica nos parangolés serviram de desenho das capas e parkas da coleção, tão coloridas quanto a obra do artista neoconcretista.

    Dos quadros de Aldemir Martins (1922-2006) o estilista recuperou "A Fera", no qual Pelé está prestes a chutar uma bola. Uma impressão em silhueta preta e branca do quadro foi liberada pela família de Martins para ser usada na coleção.

    Essa obra e a arquitetura de Oscar Niemeyer (1907-2012), que projetou o MAC-Niterói e foi a principal fonte de inspiração da grife, foram destrinchadas em peças de recortes assimétricos, com a pele à mostra característica do guarda-roupa brasileiro.

    O futurismo romântico, copiado por grifes e fundado por Ghesquière quando ele tirou a grife Balenciaga do ostracismo, no final dos anos 1990, ganhou os contornos de Niemeyer em fitas que saltavam dos vestidos e nas proporções, ora volumosas, ora retilíneas, dos "looks".

    "Para mim, a questão principal era como incorporar em minha coleção todos esses elementos que são parte da cultura brasileira sem esquecer que sou apenas um visitante que traz suas próprias referências culturais e francesas ao mesmo tempo", escreveu Ghesquière no texto enviado à imprensa.

    Como esperado de uma coleção que celebra a sede da próxima Olimpíada, a veia esportiva permeou parte do desfile. Além de versões modernistas das sandálias do tipo gladiadora, bermudas de náilon com pequenos recortes triangulares nas barras laterais lembravam os shorts dos futebolistas do século passado.

    NÃO DEU ZIKA

    Celebridades brasileiras, como as globais Cleo Pires e Sophie Charlotte, dividiram a enorme primeira (e única) fila com estrelas de cinema.

    As atrizes Catherine Deneuve e Alicia Vikander –vencedora do Oscar de melhor atriz coadjuvante deste ano por "A Garota Dinamarquesa"– eram as mais disputadas pelos convidados, apesar de Jaden Smith (filho de Will Smith) e da multiartista Zendaya terem recebido melhor os pedidos de "selfies".

    Ninguém parecia se preocupar com a ameaça de chuva e o vírus da zika, dois fantasmas que rondaram a apresentação.

    Quando a luz amarelada do final da tarde, às 16h, iluminou as roupas, o primeiro foi dissipado. Contra o mosquito causador do segundo, que em meados de março fez a grife cogitar o cancelamento do desfile, os quartos dos três hotéis reservados para o evento foram equipados com um repelente "extra forte".

    O jornalista PEDRO DINIZ viajou a convite da Louis Vuitton

    *

    Passarela

    BARRADOS NO BAILE

    Uma operação feita pela Niterói Transportes e Trânsito fechou a via de acesso ao MAC-Niterói horas antes do desfile da Louis Vuitton. Vários dos carros de luxo alugados pela marca para levar VIPs e imprensa internacional foram barrados por agentes de trânsito, que alegavam estar coibindo irregularidades nos veículos.

    'NON'

    Enquanto a atriz sueca Alicia Vikander (à esq. na foto) e o jovem Jaden Smith, filho do ator Will Smith, eram só sorrisos para as "selfies" dos convidados, a diva francesa Catherine Deneuve (à dir.) fugia dos flashes. Uma agente impedia as pessoas de chegarem perto da atriz, que se aborrecia toda vez que alguém roubava uma pose sua enquanto fumava cigarros.

    Alicia Vikander e Catherine Deneuve

    FESTINHA NA LAJE

    Depois do desfile, os convidados foram para uma festa no Parque Laje. Até a madrugada, passaram por ali modernos cariocas e editores como a americana Grace Coddington, ex-"Vogue" EUA. Os notívagos se esbaldaram com doces de festa infantil servidos pela marca. Cajuzinhos, brigadeiros, beijinhos e outros quitutes injetaram glicose depois dos litros de champanhe francês servidos no jantar, que tinha de carne seca a salada de quinoa.

    FLASH GRIFADO

    O francês Patrick Demarchelier, 72, papa da fotografia de moda de cores saturadas, andava de um lado para outro do MAC procurando a melhor luz. Além de fotografar os bastidores do desfile, Demarchelier produziu, com o mar e o Pão de Açúcar em segundo plano, fotos das modelos pouco antes do desfile.

    Patrick Demarchelier

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