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    CRÍTICA

    Novo álbum de Bob Dylan, 'Fallen Angels' não passa de jogo jogado

    IVAN FINOTTI
    EDITOR DA "ILUSTRADA"

    30/05/2016 02h00

    "Os críticos sempre estiveram no meu pé, desde o primeiro dia. (...) Eu coaxo. Soo como um sapo." Eis Bob Dylan fazendo um discurso em uma homenagem que recebeu em 6/2/2015.

    Ele continua: "Por que esses mesmos críticos não dizem coisas semelhantes sobre Tom Waits? Dizem que a minha voz falha. Dizem que não tenho voz. (...) Críticos dizem que eu desafino e canto como se estivesse falando. Sério? Nunca ouvi dizerem isso de Lou Reed. Por que ele fica ileso? O que eu fiz para merecer esse tratamento especial? Por que comigo, Senhor?".

    É revelador que um artista da estatura de Bob Dylan, que sempre fez o que quis, que sempre pareceu adorar contrariar as expectativas, se mostre tão incomodado por críticas de reles jornalistas.

    Na verdade, foi um pedido de trégua, pois três dias antes ele havia lançado "Shadows in the Night", um álbum com dez regravações de Frank Sinatra. O homem que coaxa se metendo com a maior de voz de todos os tempos? Onde já se viu? "Me deem um tempo, caras..."

    Há dez dias (20/5/2016), Dylan voltou à mesma fonte e colocou no mercado "Fallen Angels", disco com 12 canções, sendo 11 delas regravações do mesmo Sinatra.

    No ano passado, o crítico André Barcinski escreveu sobre "Shadows in the Night" na "Ilustrada": "O cantor é acompanhado apenas por sua banda, com destaque para a pedal steel guitar de Donnie Herron. Mas as dez canções soam muito parecidas. Todas têm uma cadência plangente que, somada à voz de Dylan –que só parece funcionar em suas próprias criações–, resulta num disco tedioso e sem dinâmica".

    Não há o que acrescentar sobre "Fallen Angels", basta copiar o parágrafo acima. Destaques do novo disco: "Melancholy Mood", "It Had to Be You" e "On a Little Street of Singapore".

    E por que ele faria isso? Jornalistas antenados recorreram à autobiografia "Crônicas - Volume 1" (2004), na qual Dylan supostamente declara amor incomensurável a Frank Sinatra.

    Bobagem. O trecho tem oito linhas (página 93 da edição brasileira da Planeta), cita uma única música ("Ebb Tide") e termina com uma frase que nenhum jornalista fez questão de reproduzir: "Porém, eu tinha mais o que fazer e não podia ficar ouvindo aquele lance".

    Então, por quê?

    Porque "Shadows in the Nigth" ficou em sétimo lugar nos Estados Unidos e alcançou a primeira posição de vendas na Inglaterra, absurdamente à frente de obras históricas como "Blonde on Blonde", de 1966 (nono e terceiro lugares, respectivamente), "The Basement Tapes", de 1975 (sétimo e oitavo) ou "Infidels", de 1983 (20º e nono).

    A situação de "Fallen Angels" agora é sétimo nos EUA e quinto no Reino Unido.

    Então é jogo jogado.

    FALLEN ANGELS
    ARTISTA Bob Dylan
    GRAVADORA Columbia
    QUANTO US$ 9,90 (R$ 36), no iTunes

    Edição impressa

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