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    Nesta semana, TV exibe clássicos de Fassbinder, Coppola e Truffaut

    INÁCIO ARAUJO
    CRÍTICO DA FOLHA

    30/05/2016 02h35

    A programação de TV desta semana traz obras-primas de Fassbinder, como "Lili Marlene", Coppola ("Tetro"), Truffaut ("De Repente, Num Domingo") e produções com Marilyn Monroe —"Os Homens Preferem as Loiras" e "O Pecado Mora ao Lado".

    Entre os brasileiros, destaque para "24 Horas de Sonho", clássico da Cinédia, e o documentário "A Batalha da Maria Antônia".

    Leia abaixo quais são os destaques desta semana, selecionados pelo crítico da Folha Inácio Araujo:

    *

    Lili Marlene

    SEGUNDA (30)

    Tantas vezes dedicado à Alemanha do pós-guerra, em "Lili Marlene" (1981, Arte1, 10h45 e 3h45, 14 anos) Rainer Werner Fassbinder retrocede aos anos do hitlerismo para narrar a história de uma canção e de sua cantora.

    A canção viria a se tornar uma espécie de hino internacional dos soldados em guerra: um estranho canto de alento e dor, simultaneamente.

    O diretor fixa-se na história de Willie (Hanna Schygulla), a cantora alemã apaixonada por um compositor judeu que se torna um sucesso imediato e um símbolo do Reich depois de interpretar a canção. Essa contradição central forma, com outras que virão, o magnífico núcleo melodramático do filme de Fassbinder.

    Que, recordemos, depois de passar a vida em pequenas produções, nesse momento atingia um prestígio mundial que lhe permitia filmar longas-metragens em que o luxo sobressai, tão mais paradoxal quanto em meio à carnificina da guerra.

    Tetro

    TERÇA (31)

    Graças a Édipo, sabemos todos da história do filho que deseja eliminar o pai. "Et pour cause", parece ecoar Francis Coppola em seu magnífico "Tetro" (2009, 12 anos, Arte1, 15h45).

    Pois nesse filme, que é um ressurgimento após vários trabalhos de segunda linha, Tetro carrega uma impossibilidade de viver ligada diretamente à tirania paterna. Para existir, para ser o maestro famoso que se tornou, o pai deve esmagar os filhos.

    Para sobreviver, Tetro se refugia na Argentina, no exílio, numa espécie de não existência, na verdade. Ali vai encontrá-lo o irmão mais novo, Bennie, que sente falta de Tetro.

    Coppola nos conduz pelos caminhos mal traçados da vida familiar, em que se constrói o labirinto de afetos e dores em que todos se enredam.

    Com menos angústia, não menos inteligência, podemos nos apegar a "De Volta para o Futuro" (1985, livre, TC Cult, 23h50).

    Os Homens Preferem as Loiras

    QUARTA (1º)

    Uma sessão dupla Marilyn Monroe nunca é mau negócio. Em especial se estiverem em questão duas obras-primas, como "Os Homens Preferem as Loiras" (1953, livre, TC Cult, 20h10) e "O Pecado Mora ao Lado" (1955, livre, TC Cult, 22h).

    No primeiro, o musical de Howard Hawks, convém lembrar que Marilyn ainda era o segundo nome do elenco (Jane Russell era a estrela principal), mas o próprio filme fixaria Marilyn como a número um.

    Isso será incontestável na comédia Billy Wilder que passa a seguir, em que ela vai morar no apartamento vizinho ao de um simpático homem cuja mulher acaba de sair de férias, levando o filho.

    No Curta!, a oportunidade de ver ou rever "Moscou" (2009, livre, 16h20), discutido trabalho de Eduardo Coutinho (talvez documentário, talvez não). O mesmo canal desencava "24 Horas de Sonho" (1941, livre, 22h05 e 2h05), de Chianca de Garcia, na sessão dedicada às produções Cinédia (a este voltaremos).

    O Porto

    QUINTA (2)

    Se já era interessante quando foi feito, em 2011, que dizer de "O Porto" (Arte1, 12 anos, 16h) agora que a imigração da Ásia ou do norte da África se tornou um drama europeu (já para não dizer universal).

    No filme do finlandês Aki Kaurismaki, o jovem Idrissa consegue permanecer num contêiner, e escapar das garras da polícia francesa, quando o navio em que viaja chega ao porto de Le Havre.

    Depois que consegue entrar em território europeu, é localizado e protegido por um antigo artista, hoje engraxate. Apesar de acolhido, Idrissa enfrentará dificuldades, e não poucas. A vida, o tratamento recebido, o olhar suspeitoso do europeu, a rejeição e, sobretudo, o risco de ser deportado pela polícia estão presentes aqui.

    À noite, mais alegre, o "noir" "De Repente, Num Domingo" (1983, 12 anos, TV5 Monde, 19h30), o último, luminoso François Truffaut.

    Bergman & Magnani

    SEXTA (3)

    Ótimo dia para o documentário. Digamos que o cinéfilo seja ligado na vida das estrelas. Bem, às 17h o Arte1 entra com "Bergman & Magnani" (2012, livre). O filme de Francesco Patierno tem como título original "a guerra dos vulcões".

    Alusão ao caráter vulcânico de Anna Magnani e também ao vulcão da ilha de Stromboli, onde Ingrid Bergman filmou em 1948 e onde começou seu romance com Roberto Rossellini. Não é apenas o amor de Rossellini que estava em jogo. Toda a indústria cinematográfica (a americana, no caso) foi abalada ao perder sua principal estrela, naquele momento, para a Europa.

    Guerra por guerra, "A Batalha da Maria Antônia" (2014, livre, Curta!, 21h30 e 1h30) também muito significativa (a ela voltaremos).

     De novo os cinéfilos são convocados em "A Idade de Ouro da Música de Filme" (2009, livre, Curta!, 23h), em que Thierry Jousse e Nicolas Saada evocam a música de cinema entre os anos de 1965 a 1975.

    24 Horas de Sonho

    SÁBADO (4)

    Jean Renoir se divertia com as exposições itinerantes de grandes quadros e pintores. Dizia que as pessoas passavam por aquilo sem entender nada. Acrescentava que aprenderiam muito mais sobre pintura se olhassem o quadro que seu vizinho está pintando.

    O que falava se aplica bem aos que não suportam "filme nacional". Ok, às vezes é duro. Mas também vale voltar ao 1941 de "24 Horas de Sonho" (Curta!, livre, 22h) e acompanhar a história da suicida crônica que se hospeda num grande hotel para passar seu último dia disfarçada de baronesa.

    Lá haverá uma princesa e um conde milionário, o chofer de táxi que a acompanha, ladrões e bailes.

    E ainda a questão: por que todo mundo (da ficção) tentava sempre se passar por um outro (ser um outro) no cinema brasileiro. E no Brasil seria tão diferente? E não seria esse um desejo crônico que atinge, entre outros, tantos de nossos políticos de 2016?

    A Batalha da Maria Antônia

    DOMINGO (5)

    Como vivemos a cultura? Antigas heroínas de Balzac, nos momentos de crise, recolhiam-se para ler romances. As moças dos anos 1960 saíam com os rapazes para conversar sobre os filmes que haviam visto. As de hoje comem.

    A única arte que realmente implica partilha, sobre a qual todos parecem capazes (e dispostos) de conversar é a arte culinária.

    Outro andamento é de "A Batalha da Maria Antônia" (2014, livre, Curta!, 19h30), documentário de Renato Carvalho Tapajós. A documentação é muito boa; o leque de entrevistas poderia ser mais amplo (não há ninguém do CCC ouvido, por exemplo), mas é bem informativo.

    Estávamos em 1968, os estudantes amotinados, a ditadura ainda não de todo consolidada. Tratava-se de saber quem dominava a rua, diz alguém no filme. De um lado, os estudantes de esquerda; de outro, os de direita. Sabe-se quem ganhou a guerra. Mas a evocação desse momento faz todo sentido.

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