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    CRÍTICA

    Dramas da senzala ou piadas na feira? Às 19h30, ganha o controle remoto

    ROBERTO DE OLIVEIRA
    DE SÃO PAULO

    31/05/2016 22h07

    João Miguel Junior/TV Globo/Divulgação
    Cap 8 - Cena 31 da novela "Haja Coração", nova das 19h da Globo- Apolo ( Malvino Salvador ) pergunta o que Beto ( João Baldasserini ) está fazendo ali. Apolo joga Beto em cima da barraca de frutas. Também em cena: Tancinha ( Mariana Ximenes ), Shirlei ( Sabrina Petraglia ) e Henrique ( Nando Rodrigues ).
    Mariana Ximenes em cena de "Haja Coração", da Globo

    Oh, dúvida cruel: a quem se render? Às barracas da feira ou aos dramas da senzala?

    No filão que se tem revelado apetitoso, o da faixa das sete, com audiência superior à do "prime time" das 21h, as apostas da Globo e da Record, embora sejam bem distintas, recaem sobre o mais do mesmo que há tanto se vê na TV.

    A oferta da emissora carioca, "Haja Coração", é uma "releitura" -não remake, insistem em afirmar- do folhetim "Sassaricando", de Silvio de Abreu, assinada por Daniel Ortiz. A descontração recai sobre os ombros de Tatá Werneck, nome de fácil aceitação, principalmente em meio ao público juvenil. Seja na pele de Fedora, a riquinha mimada de agora, seja na da pobretona Valdirene, de "Amor à Vida" (2013/2014), Tatá Werneck volta a nos brindar como Tatá Werneck. Sem nada tirar nem pôr.

    Malvino Salvador, travestido de Apolo, é... Malvino Salvador, o mesmo de sempre.

    Impossível desassociar a extravagante Teodora Abdala (mãe de Fedora) de personagens anteriores, interpretados no teatro por Grace Gianoukas, na "Terça Insana".

    É como se esta sua Teodora fosse uma versão milionária de Aline Dorel (quem a viu nos palcos há de se lembrar de seus esquetes ligados ao Lexotan), em doses mais contidas de tique nervoso.

    Justiça seja feita, Mariana Ximenes é o ponto fora da curva: ela consegue se diferenciar de si mesma com sua barraqueira Tancinha, mas, apesar do aparente esforço, pouco agrega a esse personagem tão carismático, imortalizado por Claudia Raia em "Sassaricando", de 1987.

    A volta ao passado parece ser mesmo uma fórmula infalível ou, pelo menos, uma tentação para os autores de novelas. Inspirada no romance "A Escrava Isaura", de Bernardo Guimarães, "Escrava Mãe", a trama de Gustavo Reiz escalada pela Record para disputar com a Globo a nova faixa nobre, entra no ar no horário antes ocupado pelo "Cidade Alerta", que perdeu uma hora de duração.

    A emissora investe numa estratégia arriscada: tira tempo do espetáculo da realidade e joga suas fichas em um folhetim de época, esperando que o telespectador consiga cruzar com naturalidade a ponte do "mundo cão" para a violência da escravidão.

    Em meio a um grupo expressivo de atrizes (Jussara Freire, Luiza Tomé, Bete Coelho, Neusa Borges), eis que engrandece a tela a beleza de Zezé Motta. Sua Tia Joaquina é como quem diz "respeitem a minha negritude e os meus 50 anos de carreira". Louvável é se deparar com uma veterana desse quilate em ação.

    Terceirizada, a produção da Casablanca feita em tecnologia 4K mostrou-se esmerada na estreia: bela fotografia casada com reconstituição caprichada. Folhetim para "família", como prega a emissora, seja lá o que isso for.

    Neste embate de duas poderosas redes de TV, quem pode sair ganhando é o controle remoto. Cansou de uma? É só mudar para a outra.

    HAJA CORAÇÃO
    ONDE Globo, 19h30
    CLASSIFICAÇÃO 10 anos

    ESCRAVA MÃE
    ONDE Record, 19h30
    CLASSIFICAÇÃO livre

    Edição impressa

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