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    Ator e diretor fica 'cego' durante peça de Samuel Beckett

    MARIANA MARINHO
    DE SÃO PAULO

    02/06/2016 12h17

    Lenise Pinheiro - 30.mai.2016/Folhapress
    Ator e diretor Eric Lenate na montagem de 'Fim de Partida
    Ator e diretor Eric Lenate na montagem de 'Fim de Partida'

    "O fim está no começo e no entanto continua-se", afirma Hamm, personagem da peça "Fim de Partida", de Samuel Beckett (1906-1989).

    A frase indica a sensação que permeia os acontecimentos (ou não acontecimentos) do texto escrito nos anos 1950 –o título em inglês ("Endgame") faz alusão à última parte do jogo de xadrez, quando restam poucas peças.

    Numa espécie de abrigo à beira-mar, Hamm, Clov, Nell e Nagg convivem com uma finitude iminente, anunciada não apenas pelo esgotamento das coisas materiais, mas também pela decrepitude de seus próprios corpos: Hamm é cego e paralítico, Clov não pode se sentar e Nell e Nagg, pais de Hamm, estão mutilados dentro de dois latões.

    Nesse contexto apocalíptico, os quatro personagens se entregam a hábitos, por vezes tediosos e vividos em meio a diálogos irônicos, cuja função é apenas matar o tempo.

    "É como um disco que gira em falso no mesmo lugar, riscando sempre no mesmo ponto", explica o diretor Eric Lenate, que nesta semana leva ao auditório do Sesc Pinheiros sua montagem da obra do dramaturgo irlandês.

    Encenada pela primeira vez em 2015 em duas apresentações no Festival da Cultura Inglesa, a peça volta com novo elenco: Miriam Rinaldi é Nell e Lenate interpreta Hamm (antes papéis de Clara Carvalho e de Marcos de Andrade). Rubens Caribé e Ricardo Grasson seguem como Clov e Nagg.

    É a primeira vez em que Lenate, longe dos palcos como ator há três anos, atua em uma peça da qual é diretor.

    Para interpretar Hamm, ele usa uma lente de contato que lhe tira a visão. "Fico à mercê do Caribé, o que torna nossa relação mais intensa", diz.

    Apesar da mudança no elenco, a encenação permanece a mesma, apostando mais em um jogo rápido, por vezes cômico, entre os personagens, do que em momentos contemplativos e silenciosos.

    "Sem perder os raciocínios interrompidos subitamente e as mudanças abismais de assunto, elementos típicos de Beckett, conseguimos outros ritmos", afirma Lenate.

    Para o ator Ricardo Grasson, "Beckett é sempre atual porque trata de sensações latentes do ser humano. Fala do fim, do recomeço e da busca pela eternidade."

    *

    FIM DE PARTIDA
    QUANDO qui. a sáb., às 20h30; até 2/7
    ONDE Sesc Pinheiros, r. Paes Leme, 195, tel. (11) 3095-9400
    QUANTO R$ 25
    CLASSIFICAÇÃO 14 anos

    Edição impressa

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