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    crítica

    'Rock em Cabul' usa preconceito para tirar sarro de muçulmanos

    ALEXANDRE AGABITI FERNANDEZ
    DE COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    06/06/2016 02h15

    Inspirada na história de Setara Hussainzada –jovem que desafiou as tradições do Afeganistão e se tornou a primeira mulher no país em um reality show musical, "Rock em Cabul" mobiliza um arsenal de preconceitos sobre a estupidez dos muçulmanos e a consequente superioridade ocidental capaz de destroçar as tênues intenções de criar um discurso de tolerância.

    Richie Lanz (Bill Murray) é um promotor musical decadente que engana jovens de talento duvidoso. Representa a única cliente que lhe resta, a mediana cantora Ronnie (Zooey Deschanel). Sem melhores opções, aceita levá-la ao Afeganistão para se apresentar a soldados americanos.

    Divulgação
    Bill Murray em cena do filme "Rock em Cabul"
    Bill Murray como um produtor musical em cena do filme "Rock em Cabul"

    Cheia de reveses e peripécias, a aventura oferece uma chance de ouro a Lanz: com seu "olfato" de caça-talentos, ele descobre Salima (Leem Lubany), que canta como ninguém e sonha em se apresentar no tal reality. Mas ela vive numa aldeia conflagrada e tem um pai que é uma fera.

    No meio do caminho, Lanz topa com alguns pitorescos compatriotas, como o mercenário Bombay Brian (Bruce Willis, na enésima paródia infeliz de seus papéis em filmes de ação), a prostituta Mercy (Kate Hudson) e dois traficantes de armas hedonistas (Danny McBride e Scott Caan).

    A trama extravagante num contexto delicado como o do conflito no Afeganistão até poderia funcionar, mas a incompetência em ajustar as pretensões cômicas do roteiro põe tudo a perder.

    Se há algum humor, ele está no começo do filme, com Lanz na Califórnia usando sua lábia para engrupir otários. Mas, quando a ação chega ao Afeganistão, o sarcasmo é por demais grosseiro e não funciona. As tradições do país são ridicularizadas sem qualquer inteligência crítica e com muito mau gosto.

    E quando a história pretende ser levada a sério –a partir do surgimento de Salima– é tarde demais, pois a avacalhação já atingiu o pináculo.

    ROCK EM CABUL
    ROCK THE KASBAH
    QUANDO: EM CARTAZ
    ELENCO: BILL MURRAY, LEEM LUBANY, ZOOEY DESCHANEL
    PRODUÇÃO: EUA, 2015, 14 ANOS
    DIREÇÃO: BARRY LEVINSON

    Edição impressa

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