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    crítica

    Alto custo é ponto baixo de mostra do pós-impressionismo no CCBB

    FABIO CYPRIANO
    DE CRÍTICO DA FOLHA

    06/06/2016 02h10

    A história da arte é cheia de movimentos que, em muitos casos, são denominações genéricas para abarcar artistas com distintas práticas, mas que produziram em tempos simultâneos. O pós-impressionismo, tema de mostra em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo, é um desses casos.

    "O Triunfo da Cor "" O Pós-impressionismo: Obras-Primas do Musée d'Orsay e do Musée de l'Orangerie" reúne alguns dos melhores trabalhos de artistas como Van Gogh, Matisse, Gauguin, Toulose-Latrec, Seurat e Cézanne, para citar os mais conhecidos, que viviam em Paris na virada do século 19 para o 20.

    Podem ser chamados de pós-impressionistas pois radicalizaram o que os impressionistas buscaram nas décadas anteriores: reforçar o uso da cor como forma de expressão e abandonar o realismo ao se distanciar da perspectiva como forma de representação.

    Tanto a obra que inaugura a exposição, "Fritilárias Coroa-imperial em Vaso de Cobre" (1887), de Van Gogh, como a que a encerra, "Odalisca com Calça Vermelha" (1924), de Matisse, podem ser vistas sob essa ótica.

    Entre ambas, a curadora Isabelle Cahn reuniu 73 obras de outros 30 artistas em quatro segmentos: "A Cor Científica"; "No Núcleo Misterioso do Pensamento de Gauguin e a Escola de Pont-Aven"; "Os Nabis, Profetas de Uma Nova Arte" e "A Cor em Liberdade".

    Com isso, ela tipifica alguns subgrupos do pós-impressionismo, que possuem uma linguagem mais semelhante. Em "A Cor Científica", por exemplo, a técnica do pontilhismo é determinante, e a tela de Van Gogh já citada e incluída nesse grupo de fato faz sentido aí.

    Além dos nomes reconhecidos, a curadora inclui outros nomes menos célebres, como Odilon Redon, com duas pinturas surpreendentes para o período: "Margaridas" e "Margaridas e Cachos de Sorva", ambas de 1901. São trabalhos que transitam de maneira tão contemporânea entre o figurativo e o abstrato que poderiam ter sido realizados agora.

    Entretanto, apesar da qualidade da mostra, especialmente a partir das obras-primas que ela contém, é preciso se questionar se uma instituição pública deve gastar nada menos que R$ 16,5 milhões para a sua realização. Esse é o valor aprovado pelo Ministério da Cultura, sendo que até o momento já foram captados R$ 7,7 milhões.

    Contudo, não deixa de ser bastante estranho que os altos custos da mostra devem ocorrer por conta de transporte e seguro das obras enquanto os principais patrocinadores da exposição são justamente empresas desse setor: Banco do Brasil Seguros e Mapfre Seguros.

    O valor de R$ 16,5 milhões –quase metade do orçamento da Bienal de São Paulo (R$ 38 milhões)– soa ainda absurdo, já que, ao contrário da Bienal, que mobiliza o circuito e sempre funciona como um catalisador do pensamento artístico, a mostra pós-impressionista pouco agrega.

    Em um momento de crise, não só econômica mas sobretudo moral, como o país atravessa, uma exposição tão cara soa como falta de respeito ao bom senso.

    O TRIUNFO DA COR
    QUANDO: DE QUA. A SEG., DAS 9H ÀS 21H; ATÉ 7/7
    ONDE: CCBB, R. ÁLVARES PENTEADO, 112, TEL. (11) 3113-3651
    QUANTO: GRÁTIS

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