• Ilustrada

    Friday, 03-May-2024 03:03:29 -03

    'Sem justiça na realidade, podemos tê-la na fantasia', diz Mark Ruffalo

    ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
    DE NOVA YORK

    08/06/2016 02h21

    Mark Ruffalo está no 39º andar de um dos hotéis mais finos de Manhattan, promovendo seu novo blockbuster, "Truque de Mestre: O Segundo Ato" –espécie de "Onze Homens e um Segredo" produzido pelo mágico David Copperfield e dirigido por Jon Chu, mais conhecido por documentários de Justin Bieber.

    É nesse contexto que o ator fala à Folha sobre o "golpe" que "parece ter acontecido no Brasil", a ganância de Wall Street e Bernie Sanders, o pré-candidato a presidente que se diz socialista num país que até há pouco parecia acreditar que comunistas faziam dieta à base de criancinhas.

    "Occupy Wall Street"? Ruffalo não perderia por nada nesse mundo. Ele se juntou ao movimento em 2011, para protestar contra o "1% mais rico do mundo". Mas ("e a ironia não passou batida") também foi lá a negócios.

    Divulgação
    Créditos: Divulgalção Legenda: Cena do filme 'Truque de Mestre 2' ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Mark Ruffalo em cena do filme "Truque de Mestre 2"

    "Andei no meio da ocupação para chegar à Trump Tower, onde conheci Ed Solomon [roteirista do primeiro filme desta franquia]", diz. Neste segundo longa, os heróis tentam impedir um megaesquema para roubar dados pessoais em nível planetário.

    "Todos os segredos estão emergindo", empolga-se. Fala de Edward Snowden, o ex-técnico da Agência de Segurança Nacional que escancarou programas de espionagem americanos, e dos Papéis do Panamá, vazamento de uma lista de donos de empresas em paraísos fiscais.

    O escândalo derrubou políticos mundo afora. Envolveu ainda celebridades como Emma Watson, Jackie Chan e Pedro Almodóvar, com contas (não necessariamente ilegais) na América Central.

    POLÍTICA

    Ruffalo se mostra um cara legal. Parece preocupar-se com o que se passa ao sul da linha do Equador. Em 2014, ele apoiou Marina Silva nas eleições do Brasil e depois retirou o que disse (não gostou de ela ser contra o casamento gay).

    Não está muito por dentro da nossa recente barafunda política. Pelo que leu, o cenário parece "alarmante", com um "governo perdendo legitimidade". Talvez tenha havido "um golpe".

    Desculpa-se pela ignorância: tem "trabalhado muito", e não é como se a política caseira estivesse dando sossego.

    Para suceder o presidente Barack Obama, está com Bernie, com quem já deu umas voltas pelo Brooklyn. Conhece amigos de Hollywood "muito apaixonados" por Hillary Clinton, provável presidenciável dos democratas.

    Não conhece ninguém que abertamente apoie o republicano Donald Trump. Não deve frequentar as mesmas festas de Mike Tyson, Jon Voight ou Jean-Claude van Damme, três entusiastas do dono do prédio onde teve sua primeira reunião com o roteirista de "Truque de Mestre".

    CARTOLA

    "Em Truque de Mestre: O Segundo Ato", Ruffalo é Dylan, supermágico infiltrado no FBI. Usa a agência para tocar sua verdadeira missão: recrutar quatro ases da magia para os formar os Cavalheiros. A ideologia do grupo mescla Mister M com Robin Hood: desvendar truque de "poderosos" para fazer justiça popular.

    Para os produtores, a façanha será tirar da cartola uma bilheteria superior aos US$ 351 milhões arrecadados mundialmente pelo primeiro filme. Para tanto, o elenco estelar (Morgan Freeman, Michael Caine, Woody Harrelson, Jesse Einsenberg e Dave Franco, irmão de James) ganha reforço de Daniel Radcliffe.

    Para Mark Ruffalo, "filmes são a última grande ilusão, a evolução tecnológica da mágica". "Já que não podemos ter justiça na realidade", diz, "podemos tê-la na fantasia".

    E a vida "aqui fora" é pródiga em truques faceiros, afirma o ator, de volta ao modo político. "Todo mundo sabe que a guerra do Iraque foi um ato, uma baboseira. Não havia nenhuma arma de destruição em massa lá. E mesmo assim lideramos um conflito trilionário, em que milhares perderam a vida. Isso é magia. Magia negra."

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024