• Ilustrada

    Wednesday, 26-Jun-2024 02:19:05 -03

    Phillippe Le Guay enfrenta tabus do envelhecimento em 'Flórida'

    ÚRSULA PASSOS
    DE SÃO PAULO

    20/06/2016 02h23

    Divulgação
    Sandrine Kiberlain, Anamaria Marinca e Jean Rochefort em cena de "Florida"
    Sandrine Kiberlain, Anamaria Marinca e Jean Rochefort em cena de "Florida"

    Um francês idoso toma apenas suco de laranja vindo da Flórida porque uma de suas filhas mora em Miami. Mas ele não se lembra do porquê de ela nunca vir visitá-lo. A outra filha cuida do pai cuja mente começa a se deteriorar, ainda que o corpo esteja bem de saúde.

    Em "Flórida", do francês Philippe Le Guay ("Pedalando com Molière"), 59, a grande dúvida sobre como lidar com um pai senil –cuidar ou colocar numa casa de repouso?– é o tema central e acomete Carole (Sandrine Kiberlain).

    "O filme é o retrato da velhice, do problema da memória, do homem que não lembra mais e que perde o senso da realidade", diz o diretor em entrevista à Folha.

    O cineasta lança seu filme no Festival Varilux, que vai até 22 de junho. O longa deve estrear no circuito comercial em 11 de agosto, renomeado pela distribuidora como "A Viagem de meu Pai".

    Claude, o homem de idade avançada do longa, é interpretado com irreverência por Jean Rochefort, de 86 anos, lenda do cinema francês. "Ele não aceitou de início o papel, demorou seis meses, e quase toda semana eu ia em sua casa, tomávamos chá, falávamos de cinema e de suas memórias", conta Le Guay.

    "Rochefort é um homem velho, mas com um sorriso e uma luz no olhar muito infantis. Eu sabia que com ele o risco de ser sentimental demais seria menor", diz. De fato, as peripécias de Claude, mesmo que fruto de um motivo sério, chegam a ser engraçadas, como quando chantageia suas cuidadoras sempre com o mesmo fingimento de ter caído sozinho em casa ou quando quer remover um inimigo do cemitério para não serem vizinhos no futuro.

    As cuidadoras do antigo industrial nunca ficam na tarefa. Por isso, e após o pai dar uma martelada na cabeça de seu namorado, Carole tem dúvidas se o coloca em uma casa de repouso.

    A situação de Claude põe a filha em momentos delicados, que envolvem questões ainda tabus para muitos. "Mas hoje, em nossa sociedade, todos somos confrontados à velhice, seja de nossos pais ou de gente da família, seja com a nossa própria", diz o diretor.

    Em um desses momentos, que o cineasta considera exemplar, Carole tem de lidar com a nudez do pai após ele ter ficado trancado num cômodo escuro e, com medo, ter urinado nas roupas.

    "A filha troca o pai, tira sua calça, sua cueca, em uma cena muda, acho que até bem recatada, mas vemos que ela é confrontada à intimidade do pai e tem dificuldade em lidar com isso", diz.

    FESTIVAL VARILUX
    QUANDO de 8 a 22 de junho
    ONDE Espaço Itaú, Caixa Belas Artes, Cinearte, Kinoplex Itaim, Cine Sala e outros
    PROGRAMAÇÃO www.varilux cinefrances.com

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024