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Retrato de atletas paraolímpicos resiste a apelo óbvio ao heroísmo
JAIRO MARQUES
COLUNISTA DA FOLHA23/06/2016 02h25
Comecei a assistir a "Paratodos" com o ânimo tedioso de um camelo ruminando no deserto. Terminei a obra eufórico, como nos dias em que se acorda achando que o mundo tem solução, sim.
Minhas experiências ao analisar filmes sobre a inclusão geralmente remetem a coleções de chatices, lugares-comuns ou melodramas.
Mas não foi bem assim. Os idealizadores do filme conseguiram bravamente resistir ao apelo óbvio ao heroísmo e ao "exemplo de vida" para dar lugar a questões como competitividade, adaptação, resiliência e impacto da inclusão.
Algo que é necessário prestar atenção em "Paratodos" é no que é mostrado de maneira diferente do que se espera. Ter uma deficiência é um desafio, mas ela não amarra toda a trama de uma vida.
Divulgação Cena do documentário 'Paratodos' Um feito primoroso do filme é fazer o espectador torcer pelos personagens não porque são pobres coitados que merecem uma medalha, mas porque treinaram para aquilo, têm carisma de campeão.
A forte emoção que permeia o documentário não é originada no sofrimento de carregar uma diferença ou em mimimi assistencialista. Ela vem de derrotas e vitórias legítimas.
O valor de um atleta com deficiência, que pouco ficou em evidência durante o ciclo paraolímpico do Rio, é a coroação de "Paratodos", que, com delicadeza e plasticidade inéditas, mostra cegos, paralisados, lesados e cadeirantes de ouro, de prata e de latão.
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