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    Coreógrafa Deborah Colker une espetáculos olímpicos em 'VeRo'

    IARA BIDERMAN
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    23/06/2016 02h40

    "VeRo", espetáculo que abre nesta quinta (23) a Temporada Alfa de Dança 2016, é uma prova de resistência de dimensões olímpicas. A obra é uma junção de "Velox" e "Rota", criados por Deborah Colker na década 1990.

    Cerca de 20 anos depois, Colker revê as coreografias, marcadas por movimentos que remetem aos esportes, enquanto dirige a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos no Rio e prepara uma montagem baseada no poema "Cão Sem Plumas", de João Cabral de Melo Neto.

    "Juntar esses dois espetáculos era um sonho antigo, não foi inspirado pela Olimpíada. Acho que a Olimpíada é que se inspirou em mim", afirma a diretora. "Era quase impossível tecnicamente unir cenários tão gigantescos e ter bailarinos dançando na parede, na roda, nas escadas."

    "Velox" é um balé aéreo em uma parede de escalada de sete metros. Em "Rota", os bailarinos giram e fazem malabarismos em escadas e numa roda de cinco metros de altura.

    Agora mais voltada à literatura (suas últimas criações foram baseadas nos romances "A Bela da Tarde" e "Evguêni Oniéguin"), a coreógrafa afirma que "VeRo" continua trazendo questões emblemáticas de sua companhia, que se notabilizou por coreografias mais acrobáticas.

    Já o poema "Cão Sem Plumas" fez a diretora mexer na formação da companhia. Sem dinheiro para novas contratações, alguns bailarinos tiveram que sair do elenco, para a entrada dos novos, vindos da dança de rua e do circo.

    Isso tornou possível a junção de "Velox" e "Rota" e direcionou o trabalho para a abertura do Rio 2016.

    "Fui convidada para a Olimpíada quando mudei os bailarinos da companhia e chamei o elenco da abertura pensando nisso. Não são coincidências, mas encontros, quase uma conspiração."

    A mistura de profissionais de diversas áreas para o evento no Maracanã, no dia 5 de agosto, foi uma das batalhas que Colker diz ter travado com o sistema gigantesco da organização dos Jogos.

    "Estou orgulhosa da maneira que consegui, a custa de muita discussão, colocar profissionais tão misturados, trazer outras linguagens, a força da dança de rua."

    Para a coreógrafa, a cerimônia é também uma oportunidade para falar das questões que lhe são caras.

    "Até propus cobrir o Maracanã de lama, mas todo mundo riu na minha cara."

    A ideia do lamaçal é em parte influência do poema de João Cabral. "Difícil é saber/ Onde começa o rio;/ Onde a lama/ Começa do rio", dizem os versos de "Cão Sem Plumas".

    Colker também adianta que um dos temas tratados no espetáculo para os Jogos é o embate entre a construção de uma civilização e a destruição da natureza.

    Assim, ela tenta atingir um público maior. "O mundo da dança é muito pequeninho, você vai a espetáculos e só tem público de dança, que saco. Vamos abrir as porteiras, vamos todos para a rua."

    VERO
    QUANDO ter. a qui, às 21h; sex., às 21h30; sáb., às 20h, dom., às 18h; até 3/7
    ONDE Teatro Allfa, r. Bento Branco de Andrade Filho, 722, tel. (11) 5693-4000
    QUANTO de R$ 50 a R$ 150
    CLASSIFICAÇÃO livre

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