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    crítica

    Arriscado, 'Na Ventania' encanta por coragem e beleza plástica

    SÉRGIO ALPENDRE
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    24/06/2016 02h33

    "Na Ventania", longa de estreia do estoniano Martti Helde, filmado em preto e branco, realiza uma operação arriscada. Após algumas imagens que lembram comercial de margarina, temos um momento revelador.

    São dez minutos em que a câmera passeia, sem cortes, de uma casa na Estônia até um local em que deportados passam por uma triagem que separa famílias. A câmera se movimenta, mas as pessoas não. Estão paralisadas, como estátuas, ou bonecos num museu de cera.

    Esse é o padrão que será seguido durante a maior parte do filme, assumindo o risco de entediar o espectador em favor de uma ideia e de uma forma poética de expressá-la.

    Aqueles que gostam de procurar defeitos bobos perceberão que algumas pessoas piscam, outras se movem discretamente. Bobagem, uma vez que nesse caso importa mais o efeito, a ideia mesmo.

    Divulgação
    Cena do filme "Na Ventania", de Martti Helde
    Cena do filme "Na Ventania", de Martti Helde

    Paralisia, imobilidade, vidas à deriva. É disso que o filme fala. Mais de 40 mil pessoas foram deportadas da Estônia, da Letônia e da Lituânia para a Sibéria em 1941, durante o terrível regime stalinista. Ficaram paralisadas pelo medo e pela impotência.

    Por vezes ouvimos barulhos em espaços vazios, e ninguém aparece. É uma maneira de narrar o que já aconteceu, a consciência de que é tarde demais para corrigir os rumos da história. Mais ou menos o que fez Alain Resnais em "Noite e Neblina" (1955).

    Mas Helde não é Resnais, e seu longa transita na perigosa fronteira entre o rigor estético de Béla Tarr e o virtuosismo sensacionalista de Lav Diaz.

    "Na Ventania", porém, encanta pela incrível beleza plástica e pela coragem de abraçar uma opção meio suicida, fazer com que ela faça sentido e seguir com ela o tempo todo (ou quase).

    NA VENTANIA
    (Risttuules)
    DIREÇÃO: Martti Helde
    ELENCO: Laura Peterson, Tarmo Song, Mirt Preegel
    PRODUÇÃO: Estônia, 2014, 12 anos
    QUANDO: em cartaz

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