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    crítica

    Mostra com 'Picassos de Picasso' traz visão mais ampla do artista

    FABIO CYPRIANO
    CRÍTICO DA FOLHA

    25/06/2016 02h11

    Poucos artistas visuais tiveram uma produção tão vasta, tão diversificada e tão visível como o espanhol Pablo Picasso (1881-1973). Certamente, suas duas facetas mais reconhecidas dividem-se entre sua fase cubista e seu ativismo político.

    A primeira, no início do século 20, é considerada essencial na história da arte por acabar de vez com o uso da perspectiva na representação, permitindo toda liberdade que se segue a partir de então. Já a fase militante alcança, com "Guernica", um dos mais importantes manifestos do século 20 contra os horrores da guerra.

    Contudo, o espanhol é muito mais do que essas duas facetas e é justamente isso que se pode comprovar na mostra "Picasso - Mão Erudita, Olho Selvagem", com curadoria de Emilia Philippot, em cartaz no Instituto Tomie Ohtake. A exposição reúne nada menos que 116 trabalhos do artista, todos do Museu Nacional Picasso-Paris.

    Isso é, aliás, um dos principais trunfos da seleção, já que todas as obras de lá podem ser chamadas de "Picassos de Picasso", pois pertenciam ao artista até sua morte e entraram para uma coleção pública em troca de isenção de impostos para seus herdeiros. Com isso, o museu abarca todas as fases de Picasso, escolhidas por ele mesmo, o que significa um importante apreço avalizado por seu criador.

    A curadora organiza a mostra em 12 módulos, exibindo desde trabalhos da fase surrealista da Picasso, passando por seu retorno conservador à figuração, nos anos 1920, até sua fase erótica, já no fim de sua carreira.

    Um dos pontos altos da mostra encontra-se em torno da representação do violão. Está nessa seção uma das obras-primas da exposição, "Homem com Violão", de 1911, uma pintura exemplar da fase cubista. O violão, no entanto, é visto ainda em outras técnicas, como o desenho, a colagem ou a gravura, e algumas delas, pequenas preciosidades, testemunham a versatilidade de Picasso.

    Outro momento forte da exposição gira em torno de "Banhistas Jogando com Bolas", de 1928, uma pintura que marca novamente a quebra na representação tradicional. A mostra ainda reúne conjuntos de fotografias, como a série de Dora Maar retratando "Guernica" sendo pintada, o que se torna uma maneira de observar o processo de criação de Picasso.

    Não é a primeira vez que obras do acervo do museu francês são exibidas em São Paulo. Em 2004, "Picasso na Oca" reuniu outras peças, seguindo uma lógica um tanto simplificadora: associava as obras às relações com as mulheres que o artista tinha em cada período.

    A exposição no Instituto Tomie Ohtake, com orçamento de R$ 6,5 milhões para São Paulo e sua ida ao Rio, consegue dar uma visão mais ampla de Picasso.

    Ele é afinal um artista moderno, mas com uma obra tão distinta e, em alguns momentos, até contraditória, que o trabalho de alguns artistas contemporâneos, que seguem sempre fazendo a mesma coisa, tornam-se puro tédio perto dele.

    PICASSO - MÃO ERUDITA, OLHO SELVAGEM
    QUANDO: de ter. a dom., das 11h às 20h. até 14/8
    ONDE: Instituto Tomie Ohtake, r. Coropés, 88, tel. (11) 2245-1900
    QUANTO: R$ 12, grátis às terças

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