• Ilustrada

    Thursday, 02-May-2024 23:15:44 -03

    crítica

    Mais ponderado, Claudio Assis faz de 'Big Jato' seu melhor filme

    SÉRGIO ALPENDRE
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    26/06/2016 02h36

    Premiado no Festival de Brasília de 2015, "Big Jato" é o melhor filme de Claudio Assis. É aquele em que menos se percebe o desejo de chocar a qualquer custo e o desbunde artificial que destrói "Baixio das Bestas" e "Febre do Rato".

    Adaptação de um livro de Xico Sá, "Big Jato" nos mostra Francisco (Matheus Nachtergaele), homem de meia-idade que trabalha num caminhão limpando fossas pela chapada do Araripe, entre Piauí, Ceará e Pernambuco.

    Frequentemente tem a ajuda do filho adolescente Xico (Francisco de Assis Moraes), que, por outro lado, prefere a profissão do tio, um radialista roqueiro e libertário também vivido por Nachtergaele.

    É sob o ponto de vista de Xico que se desenvolve a trama. Vemos suas aventuras com o tio, seu desejo de escrever, sua ida a um prostíbulo levado pelo pai, o comportamento ora compreensivo, ora violento da mãe (Marcélia Cartaxo).

    Como sempre no cinema de Assis, o machismo dos rincões brasileiros é escancarado, embora nem sempre fique evidente se de maneira crítica ou como afronta às feministas.

    Divulgação
    Rafael Nicacio e Vertin Moura em "Big Jato"
    Rafael Nicacio e Vertin Moura em "Big Jato"

    Aqui, podemos lhe conceder o benefício da dúvida, algo que não acontece em "Baixio das Bestas", no qual a possível crítica é soterrada pela grosseria da representação.

    "Big Jato", contrariamente e felizmente, é mais ponderado, um tanto mais voltado para a construção dramática do que para as possibilidades de provocação.

    Vemos, de início, imagens oníricas, como num caleidoscópio, nas quais aparece Xico como que cuspindo uma pedra. A psicodelia invade a tela na abertura. Depois o realismo predomina, com pequenas recaídas poéticas.

    Alguns diálogos pseudofilosóficos soam forçados, assim como a presença de Jards Macalé como um conselheiro e as relações entre os personagens que parecem dominadas por agressividade e crueldade, quando notamos que no fundo há muita ternura.

    Há momentos bem interessantes. Claudio Assis sabe filmar, afinal. Mas precisa se livrar de vez dessa rebeldia postiça que norteou sua carreira. "Big Jato", pelo menos, mostra que está no caminho. (SA)

    BIG JATO
    DIREÇÃO: Claudio Assis
    ELENCO: Matheus Nachtergaele, Marcélia Cartaxo e Rafael Nicácio
    PRODUÇÃO: Brasil, 2015, 16 anos
    QUANDO: em cartaz

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024