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    Pirotecnia e roteiro fraco prejudicam cinebiografia de José Aldo

    ALEXANDRE AGABITI FERNANDEZ
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    27/06/2016 02h30

    Espetáculo disseminado em boa parte do mundo, o UFC está organizado como uma poderosa indústria. Aproveitando a onda das cinebiografias, "Mais Forte que o Mundo" celebra a trajetória do carismático amazonense José Aldo (José Loreto), o primeiro campeão mundial do UFC na categoria peso pena.

    Em seu terceiro longa, Afonso Poyart conta a trajetória do lutador desde a juventude sem perspectivas em Manaus até a conquista do cinturão mundial, adotando os cânones do cinema de ação.

    A grandiloquência da narrativa está estampada no título e reverbera nas encenações das lutas, filmadas com "pirotecnia". São câmeras que se movimentam sem parar adotando pontos de vista inesperados, uso de câmera lenta, imagens desfocadas ""numa estilização cheia de cacoetes do cinema publicidade.

    Divulgação
    José Loreto em cena do filme "Mais Forte que o Mundo - A História de José Aldo", de Afonso Poyart ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    José Loreto em cena do filme "Mais Forte que o Mundo - A História de José Aldo", de Afonso Poyart

    Os planos extremamente rápidos dos combates, encadeados em ritmo vertiginoso, além da trilha sonora triunfalista só aumentam sua grandiosidade transbordante de testosterona. A onipresença desses maneirismos acaba por banalizá-los e prejudica a progressão da narrativa.

    Em relação ao roteiro, assinado por Poyart e pelo escritor Marcelo Rubens Paiva, a referência é o melodrama e suas fórmulas, que se prestam à intenção de fisgar pela emoção o espectador que não é fã de lutas: a história de José Aldo tem pobreza, violência doméstica, humilhações, rivalidades e, por fim, a superação.

    Na primeira parte, que aborda a juventude do lutador em Manaus, a fotografia é sombria, como sua vida. Ele tem uma relação conturbada com o pai (Jackson Antunes). Talvez como reação a esse ambiente opressor, sua diversão predileta com os amigos é dar pauladas em pedestres.

    Quando a mãe se separa do marido, José Aldo vai para o Rio. A partir daí a fotografia é luminosa e a jornada do herói não tarda em se transformar numa rápida sucessão de lutas que se acumulam sem contextualização. A carreira é tratada como dispensável.

    Apesar de José Aldo aparecer em todas as sequências do filme –ou quase—, ficamos sabendo pouco sobre ele. O roteiro insiste que sua grande luta é algo interior, talvez ligada ao seu passado. Essa dimensão é dada pelo recurso do monólogo interior e reafirmada por motes como mote "só é lutador quem sabe lutar consigo mesmo".

    O conflito entre pai e filho, marcado pela ambiguidade entre amor e ódio, constantemente recolocado, tem a possibilidade mais rica para ajudar a entender o que move o lutador, mas não é tratado como deveria.

    MAIS FORTE QUE O MUNDO
    DIREÇÃO: AFONSO POYART
    ELENCO: JOSÉ LORETO, MILHEM CORTAZ, CLEO PIRES, JACKSON ANTUNES
    PRODUÇÃO: BRASIL, 2015, 14 ANOS
    QUANDO: EM CARTAZ

    Edição impressa

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