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    Porta dos Fundos estreia no cinema com filme que tira sarro do showbiz

    LÍGIA MESQUITA
    EDITORA-ADJUNTA DA "ILUSTRADA"

    30/06/2016 02h25

    Uma menininha para diante de um mendigo na calçada. Os dois conversam rapidamente e desejam ao mesmo tempo: ele, voltar a ser criança; ela, ser adulta. Num passe de efeito visual tosco a troca de corpos é feita (qualquer semelhança com longas como "Se Eu Fosse Você" não é mera coincidência).

    Sentado no avião, o protagonista da cena, o ator Rodrigo Assis (Fábio Porchat), fala para seu empresário, Ulisses (Luis Lobianco): "Esse filme é tão ruim. Não me deixa mais fazer esse tipo de filme, queria fazer uma peça".

    O agente então lembra que o longa em questão rendeu "muitas capas" de revistas para o ator. E corta o barato dele em relação ao teatro: "O público gosta de dar risada, não de Shakespeare".

    É assim, rindo do showbiz e do próprio meio artístico no qual está inserido (tem o jornalista de celebridades sem noção, a blogueira fitness, a preparadora de elenco que faz o ator acreditar que é um cachorro, entre outras coisas), que o Porta dos Fundos faz sua estreia nos cinemas com "Contrato Vitalício", quatro anos após o grupo surgir.

    "A gente faz parte desse mundo do entretenimento e estamos rindo de coisas que já fizemos, pelas quais já passamos", diz Porchat à Folha.

    O humorista assina com Gabriel Esteves o roteiro do longa, que estreia nesta quinta (30), em mais de 700 salas do país. A direção é de Ian SBF, um dos criadores do Porta.

    O diretor acha que a chegada à grande tela não acontece no melhor momento do cinema, mas não vê problema nisso. "Quando surgimos havia uma curiosidade maior, o cinema vivia um 'boom', perdemos uma boa oportunidade. Mas não tínhamos a história certa, jogamos dois roteiros fora", conta.

    "Claro que queremos que muita gente assista, que tenha uma excelente bilheteria, mas não fazemos nada com o objetivo de ganhar dinheiro."

    CENTRO DA TERRA

    No longa, Rodrigo, em crise com sua carreira, reencontra o amigo e cineasta Miguel (Gregorio Duvivier), com quem fez um filme vencedor de um prêmio em Cannes dez anos antes –aqui também não faltam piadas com os chamados filmes de arte.

    Na noite em que comemoraram a conquista, os dois prometem trabalhar sempre juntos e, bêbados, redigem um "contrato vitalício" em um guardanapo de papel.

    O que Rodrigo não imaginaria é que o diretor desapareceria naquele dia e retornaria dez anos depois, quando ele já fosse um ator famoso.

    Miguel explica seu sumiço dizendo que foi raptado por alienígenas para o centro da Terra. E avisa a Rodrigo que filmará essa história, que tem como vilão o extraterrestre Takahashi (Rafael Portugal).

    Pelo contrato, Rodrigo se vê obrigado a protagonizar o filme de estilo tosco "La Bataille Épique - Klinglonfland", com um diretor maluco que tem como assistente um mendigo (interpretado por João Vicente de Castro).

    METALINGUAGEM

    E dessa maneira o Porta dos Fundos brinca mais uma vez com seu meio rodando um filme dentro de outro.

    A trama trash, inspirada em "Os Trapalhões na Terra dos Monstros" (1989) e "Barbarella" (1968), funcionou tão bem –tente sair do cinema sem imitar a língua alienígena de Takahashi– que SBF sentiu pena de não realizá-la para valer.

    "Vamos fazer mais para frente algo nessa linha", adianta. "E também de outros gêneros, um drama."

    Com "Contrato Vitalício", o Porta afirma não ter pretensão alguma de fazer algo novo, de "revolucionar".

    "Não fazemos nada original. A gente faz esquete, quer coisa mais antiga? Não estamos querendo com o filme nos tornar referência de comédia boa", diz SBF. "A gente só está querendo fazer algo que nós gostaríamos de ver no cinema."

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