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    Flip

    Na abertura da Flip, poeta arranca aplausos ao citar Temer 'monstruoso'

    LIGIA MESQUITA
    LUIZA FRANCO
    ENVIADAS ESPECIAIS A PARATY (RJ)

    29/06/2016 20h35

    Questionado se a poesia era a vida passada a limpo, o poeta Armando Freitas Filho, 76, arrancou aplausos e gritos da plateia na mesa inaugural da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), nesta quarta (29), ao citar o presidente interino Michel Temer.

    "A minha poesia, eu a entendo como a que toca todas as coisas, inclusive as mais monstruosas. Que pode tocar um Temer, por exemplo", declarou.

    Freitas Filho, grande amigo da homenageada deste ano do festival, a poeta Ana Cristina Cesar (1952-1983), e guardião de sua obra, participou da abertura ao lado do fotógrafo e cineasta Walter Carvalho, 69. O diretor fez um longa sobre Freitas Filho chamado "Manter a Linha da Cordilheira sem o Desmaio da Planície", filmado durante sete anos. O debate foi mediado pelo poeta Eucanaã Ferraz.

    Keiny Andrade/Folhapress
    Paraty, RJ, 29.06.2016 - FLIP 2016 ILUSTRADA - Mesa de abertura da FLIP 2016. Na foto, Eucanaa Ferraz, Aimando Freitas Filho e Walter Carvalho. FOTO: Keiny Andrade/Folhapress
    Da esq.: Eucanaã Ferraz, Armando Freitas Filho e Walter Carvalho na mesa de abertura da Flip

    Amigo de Ana C. Durante 12 anos, até a sua morte, Freitas Filho relembrou a convivência com a poeta.

    "O que me impressionou logo que nos conhecemos foi a maneira intrigante com que ela, usando o termo em todos os sentidos, provocava você para falar, ouvir. Isso era forte. Não é à toa que nesses anos de profunda amizade, a gente brigou muito. Tudo era um problema para ser resolvido", contou. "Verso livre, por exemplo, é livre ou não? Como pôr vírgulas?"

    Ele, que leva vida discreta e não costuma viajar, abriu uma exceção para vir à Flip para falar de sua amiga. E brincou que até hoje conta quase tudo para ela.

    Carvalho falou da relação entre poesia e o cinema. Disse que um verso de Freitas Filho foi o que o inspirou a fazer o filme com o autor, exibido logo após o debate.

    "Li um poema que dizia 'uma gaivota passa riscada a lápis'. Não sabia se estava diante de uma poesia ou de uma imagem. E esse verso me levou à ideia de fazer um filme sobre o Armando", disse. "Na Paraíba, quando alguém faz algo interessante, dizem 'ele é um poeta'. Nunca ouvi ninguém dizer é um cineasta."

    CRISE

    A crise econômica e política pela qual o país passa não ficou de fora da abertura.

    O curador da festa, Paulo Werneck, abriu a mesa inaugural com uma homenagem a profissionais da área de comunicação e de editoras atingidos por cortes.

    "Este ano todo jornalista me pergunta da crise. A gente não pode esquecer que crise e crítica têm origem comum na língua grega. Isso faz a gente pensar que a crítica literária, a autocrítica, são bem-vindas, devem ser recebidas com cuidado, como objeto de reflexão", declarou.

    Sem citar nomes, fez referência indireta à editora Cosac Naify, que fechou as portas no final de 2015. "Temos aqui autores de editoras extintas e esse trabalho ficou por causa de profissionais muito sérios."

    Provavelmente se referia a Carvalho, que publicou livros pela editora.

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