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    Flip

    Polarização política provoca debate acalorado na Casa Folha

    LÍGIA MESQUITA
    ENVIADA ESPECIAL A PARATY (RJ)

    01/07/2016 13h55

    Um debate acalorado sobre polarização política, em que se ouviram gritos de "Fora Temer", "coxinha" e "fascista" a todo momento, marcou a abertura do segundo dia de programação da Casa Folha em Paraty, onde acontece a Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), nesta sexta (1º).

    O público que não coube dentro da casa lotou a rua em frente ao local de debate para escutar o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ) e o doutor em economia Samuel Pessôa, ambos colunistas da Folha, debaterem o tema "Para Onde Vão a Direita e a Esquerda no Brasil". Marcos Augusto Gonçalves, editor da "Ilustríssima", fez a mediação.

    Pessôa abriu a conversa dizendo que no Brasil, ao contrário do restante do mundo, a discussão atual sobre direita e esquerda não é normativa, não acontece pela maneira como é gerado o desenvolvimento econômico de um país.

    Para o doutor em economia, "há uma pobreza no debate" na maneira como a esquerda vê as experiências que deram errado. "A esquerda tem que dizer por que a Colômbia, que pratica tudo que o Consenso de Washington pede, está melhor que a Venezuela. Ou por que o Chile, que faz o mesmo, está melhor que a Argentina", disse.

    Segundo ele, a esquerda precisa olhar e estudar mais a história recente da América Latina para redefinir seus pontos de vista.

    Ainda no âmbito econômico, Pessôa criticou o que chamou de único discurso da esquerda diante dos erros do governo Dilma Rousseff, que seria botar a culpa de tudo nos banqueiros e no Banco Central. "É uma pobreza intelectual. Pega o discurso da Luciana Genro [candidata do PSOL à Presidência em 2014], ela só sabia falar de banqueiros, juros e lucros", disse.

    Ao tomar a palavra, Freixo primeiramente disse concordar com os gritos do público que pediam a saída do presidente interino Michel Temer. E afirmou que todo mundo tem que estudar sempre, não apenas a esquerda.

    Para o deputado, limitar essa discussão de esquerda e direita à economia, "empobrece o debate sobre democracia" e não são os modos de produção que estão provocando esse racha na sociedade. "As pessoas não vão ficar mais ou menos felizes por causa da taxa Selic", falou.

    Do lado de fora da Casa Folha uma pessoa gritou que o discurso de Freixo era "vazio e oco" e recebeu vaias da grande maioria do público.

    Freixo afirmou que a discussão no país precisa ser sobre democracia. "Como a direita e a esquerda vão tratar do fascismo?", questionou. "Não sou desonesto para falar que toda direita seja fascista, seja Bolsonaro. O Bolsonaro não está nem no campo da divergência democrática, política. Pelo contrário, está no campo que mais fere essa democracia."

    O político também criticou o que chamou de "covardia" da direita em relação à homofobia. "Tem um silêncio que é covarde porque PSC, PP viraram aliados importantes."

    Pessôa disse estar com "muita coragem" para se posicionar como direita no debate da Casa Folha. "Mas não respondo por toda conta de programas da direita, pelo Bolsonaro, tá?", falou. "Reitero que aqui esse debate de esquerda e direita não é normativo. Se fosse, eu estaria na esquerda (risos)."

    Ao final, um momento que uniu o público que ouvia o debate, dentro e fora da Casa Folha. "A direita não pode ter como porta-voz o Alexandre Frota. Porque vocês vão me fazer sentir saudades do Delfim Netto, do Roberto Campos", disse Freixo, arrancando risos e aplausos.

    CRÍTICA AO MEDIADOR

    O mediador do debate, o jornalista Marcos Augusto Gonçalves, sofreu várias críticas da plateia ao comparar o governo de Dilma Rousseff ao do general Ernesto Geisel no que diz respeito à política econômica, na visão estatizante da economia. Essa comparação é tema de um artigo de Samuel Pessôa.

    Marcos Augusto ouviu gritos de "coxinha" e vaias. Alguns reclamaram que "mediador precisava ser isento".

    Freixo repreendeu a fala do mediador. Disse que Dilma foi torturada pelos militares e que era preciso ter cuidado com as palavras. "Hoje em dia o óbvio precisa ser dito", falou.

    Chamada Flip

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