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    Flip

    Relacionamento de escritora inglesa com falcão é narrado em livro

    RODOLFO VIANA
    ENVIADO ESPECIAL A PARATY (RJ)

    02/07/2016 02h35

    Quando jovem, a inglesa Helen Macdonald não tinha fotos de ídolos teen coladas nas parede do quarto –as imagens que tomavam o espaço eram de aves de rapina.

    "Eu implorava para meus pais comprarem livros sobre esses animais antes mesmo de saber ler. Era obcecada", diz a pesquisadora de história da ciência da Universidade de Cambridge, que está no Brasil para a 14ª Flip (Festa Literária Internacional de Paraty). Ela divide a mesa O Falcão e a Fênix com Maria Esther Maciel neste sábado (2), às 19h30.

    "Acho que eu era excêntrica", comenta ao lembrar da pré-adolescência. Aos 13 anos, passou finais de semana num centro de falcoaria e chegou a treinar uma das aves, Amy. "Ela havia sido resgatada de um homem que a mantinha numa gaiola de papagaio. Eu a treinava e ela voava livre todos os dias depois da escola, e costumava dormir na minha estante de livros."

    Marzena Pogorzaly/Divulgação
    A escritora Helen MacDonald (Marzena Pogorzaly/Divulgação) ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    A escritora inglesa Helen Macdonald, obcecada por falcões

    MABEL E EU

    Anos depois, a obsessão seria uma forma de lidar com a morte de seu pai, que partiu após um ataque cardíaco, em 2007. "Fiquei devastada", diz. "Ele era um pai brilhante, um homem muito bom, e éramos melhores amigos."

    A depressão do luto criou um abismo entre Macdonald e o restante do mundo. Até que ela teve uma ideia: retomar a falcoaria para dar sentido à vida. Foi à Escócia e comprou uma fêmea de açor –uma das raças mais violentas de falcão– com dez semanas de idade. Deu a ela o nome de Mabel.

    "Não é todo mundo que pega uma ave de rapina para trabalhar o luto, mas todo mundo fica meio louco quando perde alguém que ama", diz a escritora, cuja história é narrada em "F de Falcão", autobiografia lançada recentemente no Brasil, depois de se tornar best-seller do "New York Times".

    "No fim, viver com o falcão para lidar com a dor me levou a outro tipo de loucura: quanto mais eu vivia com Mabel, mais eu me tornava uma criatura selvagem, com medo dos humanos, sentindo-me mais em casa na natureza do que na companhia de outras pessoas", afirma.

    Ela conta que, nos primeiros dias de treinamento, tinha de se isolar com Mabel em uma casa quieta. "Eu me afastava das pessoas. Foi bom, pois queria mesmo ficar sozinha. Mas quanto mais tempo eu passava com Mabel, mais eu me esquecia como era ser uma pessoa", explica. "Eu via o mundo com os olhos dela, e ele era bonito, cruel, sem espaço para emoções humanas."

    Chamada Flip

    Foram meses nessa solidão compartilhada com um falcão, nessa desumanização de si mesma, quando Macdonald percebeu que " estava indo longe demais". "Tive de reaprender a ser gente."

    F De Falcão
    Helen Macdonald
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    "O período que passei com Mabel me levou à conclusão de que o que era mais especial na nossa relação não era o fato de eu ser como ela ou ela, como eu", diz.

    "Percebi que éramos diferentes mas, apesar disso, podíamos compartilhar a vida e ter –por falta de melhor palavra– uma amizade. Acho que Mabel concordaria."

    F DE FALCÃO
    AUTORA Helen Macdonald
    TRADUÇÃO Maria Carmelita Dias
    EDITORA Intrínseca
    QUANTO R$ 44,90 (288 págs.)

    Edição impressa
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