Desde que estreou em 2015, "Os Dez Mandamentos" (Record) deixou de ser uma simples novela e se transformou num fenômeno "crossmedia". Além da segunda fase —que terminou nesta segunda (4)— a obra também gerou filme, peça musical, exposição itinerante, linha de batons e coleção de bijuterias. Também se tornou um dos pilares da marca da emissora.
Tudo isso sem disfarçar sua função catequizadora. O Deus cruel apresentado pela trama, que pune com rigor exagerado o menor deslize de seu rebanho, lembra muito as ameaças dos pastores da Igreja Universal do Reino de Deus, a controladora da Record, a quem ousa se afastar da fé.
"Os Dez Mandamentos - Nova Temporada" foi uma novela-tampão, criada às pressas para manter a franquia viva enquanto mais uma continuação, "A Terra Prometida" (que estreia nesta terça, 5), não ficava pronta. Neste sentido, foi plenamente bem-sucedida: alcançou boa audiência e repercutiu bem na internet.
Mas os mesmos problemas que afligiram todas as etapas do folhetim bíblico se manifestaram no final. Excesso de câmera lenta, efeitos cafonas, texto grandiloquente e interpretações canhestras deram o tom. E nenhuma foi pior do que a voz de Deus feita por César Willian —que pelo menos tem a desculpa de ser apenas locutor, não ator.
Sem falar que o nítido esforço em cenários e figurinos praticamente foi posto a perder pela pífia caracterização dos personagens como velhos. Barbas obviamente postiças e maquiagens rudimentares deixaram o elenco com cara de estudantes no espetáculo de fim de ano do colégio.
Será que isto importa? O público da novela não se incomodou, e extravasou seu entusiasmo pelas redes sociais. Este mesmo sucesso já está se repetindo na Argentina.
"Os Dez Mandamentos - Nova Temporada" cumpriu com garbo sua missão, segurando o Ibope e o relativo prestígio que sua antecessora conquistou para a dramaturgia da emissora.
Mas foi um mau produto sob qualquer critério artístico.
OS DEZ MANDAMENTOS - NOVA TEMPORADA 