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    Ator relata em peça os últimos cem dias de sua mãe, que sofreu de câncer

    MARIA LUÍSA BARSANELLI
    DE SÃO PAULO

    06/07/2016 17h00

    Certo dia, a arquiteta Marpe Facó viu "o chão parar no céu e o céu parar no chão". E, em meio à tontura repentina, "deu de cara no céu."

    Assim, transpondo para o palco os sentimentos e as escaramuças de uma doença, o ator e dramaturgo Álamo Facó, filho de Marpe, descreve os cem últimos dias em que conviveu com a mãe, após ela ter sido diagnosticada com um tumor cerebral, em 2010.

    O registro está no monólogo "Mamãe", que ele, codirigido por Cesar Augusto, estreia nesta quinta (7), em São Paulo, após temporada no Rio.

    Durante a doença de Marpe, Álamo dizia a ela que sua história daria um "personagem de filme com a Meryl Streep". O dia a dia no hospital, as burocracias médicas e o baque da perda iminente foram sendo postos no papel em forma de depoimento.

    Dois anos depois, Álamo retomou o texto, mas deixou de lado o aspecto documental para escrever uma ficção.

    Criou a história de Marta, mãe que descobre o câncer –"Havia uma bola aqui, estúpida", diz em cena a personagem, apontando para a têmpora direita. E a relação dela com o filho, o ator Lázaro.

    Álamo se alterna entre os dois papéis, mas se distancia de uma interpretação realista. Traz características da performance e influências de artistas como Sophie Calle, Lygia Clark e Bruce Nauman. Também transita no terreno da memória e do cérebro que aos poucos se esfacela.

    Apesar dos desvios da realidade, contudo, há ali muitos fatos verdadeiros. Álamo fala do passado da mãe, de seu relacionamento aberto com o pai, da paixão dela pela arte. Mostra em cena a foto que tirou de Marpe no hospital, preenche o cenário de quadros, alguns deles como os que usou pra colorir o quarto onde a mãe fora internada.

    Também traz influências de outros casos com os quais o ator conviveu, como a perda da colega Bel Garcia, atriz e diretora morta em novembro passado, aos 48, também de um câncer no cérebro.

    E faz ainda uma crítica às burocracias do sistema de saúde e à resistência a tratamentos alternativos, como o uso da fosfoetanolamina, a chamada "pílula do câncer".

    "É um engasgo, uma revolta. Como a gente não consegue mudar isso [o sistema]?, São pessoas especiais [os pacientes]", diz Álamo. Mas a peça é como uma missão, dá um alívio colocar isso para fora."

    Ainda assim, salpicam na montagem traços de humor –caso do título, "Mamãe", uma brincadeira do ator, que na realidade chamava Marpe pelo prenome. Um pouco do colorido que Álamo quis levar aos últimos dias da mãe.

    MAMÃE
    QUANDO qui. a sáb., às 20h30; até 6/8
    ONDE Sesc Pinheiros, r. Paes Leme, 195, tel. (11) 3095-9400
    QUANTO R$ 7,50 a R$ 25
    CLASSIFICAÇÃO 14 anos

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