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    Lady Macbeth feminista do russo Chostakóvitch canta no Municipal

    GISLAINE GUTIERRE
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    12/07/2016 02h30

    Morte, sexo, paixão e traição movem "Lady Macbeth do Distrito de Mtsensk", ópera de Chostakóvitch que estreia nesta terça (12) no Theatro Municipal paulistano. A produção é da ópera Helikon de Moscou, criada em 2000 e remontada aqui com toda a equipe russa. Haverá seis récitas até domingo (17).

    A violência permeia toda a ópera, cujo libreto, assinado por Chostakóvitch (1906-75) e Alexander Preis, é inspirado na obra de Nikolai Leskov (1831-95). Já na segunda cena, a protagonista, Katerina, salva uma empregada de um estupro coletivo comandado por Sergei, novo funcionário do comércio de seu marido.

    Os dois brigam, mas ela se apaixona por ele. Em nome desse sentimento, Katerina cometerá os assassinatos: primeiro do marido, Zinovy, depois do sogro, Boris, e mais tarde da mulher com quem Sergei flertará, quando irão para um campo de trabalhos forçados na Sibéria.

    Heloisa Ballarini/Secom/Divilgacao
    Elena Mikhailenko (Katerina Lvovna Izmailova) Foto: Heloisa Ballarini/(SECOM) ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Elena Mikhaylenko como Katerina, a Lady Macbeth da ópera

    Segundo o maestro Paulo Maron, que durante 20 anos estudou a obra do compositor russo, aí está o paralelo com Lady Macbeth de Shakespeare (1564-1616), que convence Macbeth a matar o rei Duncan para assumir o reino da Escócia. "Só que Katerina não se arrepende", diz Maron.

    "Katerina é uma assassina, mas mata por amor", diz o diretor cênico Dmitry Berman. "Essa é uma ópera feminista", continua Maron, lembrando que a protagonista é uma mulher reprimida pela sociedade patriarcal russa.

    Musicalmente, também há um diferencial. "Toda vez que ela aparece, a composição tem um caráter mais melancólico, trágico", explica Maron. "A música de Chostakóvitch não é tão acessível, mas sempre atraiu demais o público.".

    Quem parece não ter gostado foi o líder soviético Josef Stálin, presente a uma récita, em 1934. Quando Katerina e Sergei são levados a uma prisão na Sibéria –referência aos gulags, para onde eram mandados oponentes ao regime–, o ditador deixou o teatro.

    Chostakóvitch, que àquela altura já era famoso, virou de repente um inimigo da Rússica por causa de um editoral do jornal "Pravda", que atacou a ópera, falando em cacofonia e excesso de erotismo. "A música dele foi boicotada e ele não pôde mais lecionar. Ficou à margem", diz Maron.

    As partituras da ópera, segundo o maestro, ficaram trancadas nos cofres da KGB (o serviço secreto soviético) e só foram liberadas cinco anos após a morte de Chostakóvitch. Nos anos 1960, o compositor criou uma versão mais branda da história, chamada "Katerina Ismailova".

    LADY MACBETH DO DISTRITO DE MTSENSK
    QUANDO ter. (12), qua. (13), qui. (14) e sex. (15), às 20h; sáb. (16), às 20h; dom. (18), às 17h
    ONDE Theatro Municipal, pça. Ramos de Azevedo, tel. (11) 3053-2090
    QUANTO R$ 50 a R$ 160
    CLASSIFICAÇÃO 18 anos

    Edição impressa

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