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    Mutantes tocam na íntegra 'Tudo Foi Feito Pelo Sol', de 74, em show em SP

    MARCELO JUSTO
    DE SÃO PAULO

    15/07/2016 17h34

    "Hoje para mim que é o dia do rock", grita um fã no meio do público, assim que Sérgio Dias Baptista sobe ao palco do Sesc Belenzinho, em São Paulo, com a banda Os Mutantes, fazendo uma referência ao dia mundial do rock, comemorado no dia 13 —a primeira das duas apresentações, no entanto, caiu nesta quinta (14).

    "Antes de qualquer coisa, queria dizer a vocês que não consigo mais alcançar aquelas notas", diz o guitarrista e líder Sérgio Dias, ao se referir aos acordes e efeitos virtuosos de guitarra gravados no álbum "Tudo Foi Feito Pelo Sol", sexto álbum da banda, lançado em 1974, considerado o melhor do rock progressivo brasileiro, com músicas longas e elaboradas.

    "Eu tinha 23 anos na época e já não me lembro mais", completa. Mas bastou iniciar os primeiros acordes de "Deixe Entrar um Pouco d'Água no Quintal" e no solo de abertura de "Pitágoras" o blefe veio à tona, para quem começou a tocar guitarra aos 11 e aos 13 já dava aulas para coleguinhas da rua.

    Impulsionados por um público de meia idade, que ajudava Sérgio Dias a cantar os refrões quando o músico se perdia entre as colas das letras, os roqueiros da formação da 1974 emanaram virtuosidade nos acordes do rock progressivo e tocaram na íntegra o álbum como prometido, ideia que surgiu em 2012 quando Sérgio foi convidado a fazer a mesma apresentação no festival Psicodália, em Santa Catarina.

    Parte da banda é da formação que gravou o disco na época, Sérgio é acompanhado por Rui Motta (bateria e vocais), Tulio Mourão (teclados e vocais), Antonio Fortuna (baixo e vocais) e dois músicos convidados nos backing vocais: Esméria Bulgari e Fábio Rehko.

    Na terceira faixa do disco, "Desanuviar", Sérgio passou a sentir o público mais participativo cantando junto em coral as frases futuristas da letra, que relembra e faz reverencia quase direta a estética associada a grupos como Yes e Emerson, Lake & Palmer, expoentes do progressivo. O tecladista mineiro Túlio Mourão (ex-veludo elétrico) ganha total espaço no som entre o piano, o órgão Hammond e o sitetizador MiniMoog, levando o público de 500 pessoas a uma meditação.

    Nas faixas "O Contrário de Nada é Nada" e "Cidadão da Terra", o rock rasgado veio com mais folego, mas nada pretensioso. As letras nos levam literalmente aos cantos hippies dos 70, do álbum que originalmente foi gravado ao vivo no estúdio RCA, em Copacabana, no Rio. Há um histórico, já confirmado pela banda, de que eles estavam gravando a primeira música, "Pitágoras" (segunda no disco), quando Mourão sinalizou para que seguissem as gravações. Assim foram gravadas, numa só execução, todas as faixas do álbum.

    Bem diferente do show, que teve problemas de retorno de áudio e no qual o baterista Rui Motta teve que deixar o instrumento para buscar outras baquetas. Nada que deixasse o entrosamento prejudicado, porém.

    Com clima de despedida e para fechar o álbum, antes que se iniciassem os primeiros acordes de "Balada do Amigo", ouve-se um grito de "gostoso" de uma voz masculina bem próxima ao palco, que arrancou tímidas gargalhadas do guitarrista. Ao fim da apresentação, Sérgio faz questão de agradecer e todos juntos deixam o palco. Minutos depois, eles retornam aos pedidos de bis. "Resolvemos que vamos tocar a primeira ["Deixe Entrar um Pouco d'Água no Quintal"], novamente, porque erramos muito", brinca o guitarrista.

    "Nós todos aqui passamos por momentos difíceis", citando, caso a caso, todos os integrantes da banda que, como ele, ficaram doentes. E agradece visivelmente emocionado.

    O disco, idealizado por Sérgio, foi literalmente tocado tocado faixa a faixa como prometido e o que era lenda, que toda a inspiração na época foi alimentada a base de LSD, já foi ratificada na biografia "A Divina Comédia dos Mutantes", de Carlos Calado.

    E Os mutantes entre 1974 e 1976 foram uma empreitada do guitarrista, que mesmo sem a formação de origem com a saída de seu irmão, Arnaldo Baptista, e de Rita Lee, garantiu a sobrevivência da banda com "Tudo Foi Feito Pelo Sol", lançado em outubro de 1974, disco mais vendido do grupo, com cerca 30 mil cópias.

    No final do show, como é de praxe, uma fila se formou ao lado do palco. Alguns fãs carregavam versões em vinil do disco, mas, depois de meia hora de espera, a produção anunciou que a banda não os atenderia. "O Sérgio não está bem, tomou um antiácido", informou um rapaz, funcionário do Sesc.

    A produção não confirmou essa informação, mas alegou que, devido a um problema crônico na coluna, Sérgio Dias realmente não passava bem depois de dias de atividades constantes, como ensaios e passagens de som.

    Nesta sexta (15), a banda se apresenta novamente no local.

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