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    CRÍTICA

    Prazer de 'Dois Caras Legais' não está na trama, mas nas piadas

    CÁSSIO STARLING CARLOS
    CRÍTICO DA FOLHA

    19/07/2016 02h05

    Logo que surge o título na tipografia Dreamland e começa a tocar a climática abertura de "Papa Was a Rollin' Stone", a reação imediata é: estamos nos anos 1970.

    As camisas de estampas havaianas que o personagem brucutu de Russell Crowe veste e o bigode no estilo cafajeste de Ryan Gosling tiram qualquer dúvida.

    Sim, "Dois Caras Legais" é uma máquina do tempo embalada por hits de Earth, Wind & Fire, Kool & The Gang e America.

    O diretor e roteirista Shane Black reúsa a velha e boa fórmula do "buddy movie" –o filme que junta dois tipos que têm tudo para dar errado, mas se completam– numa intriga-colagem que mistura mundo pornô, ricos corruptos e o que, láááá atrás, era chamado de "festa de embalo".

    Divulgação
    This image released by Warner Bros. Entertainment shows Ryan Gosling, left, and Russell Crowe in a scene from "The Nice Guys."
    Gosling (esq.) e Crowe em cena do 'buddy movie' 'Dois Caras Legais'

    A trama, como as letras de dance music, é do tipo para prestar nenhuma atenção. O prazer vem do ritmo, dos climas e das piadas cifradas que o roteirista-diretor espalha para o público de sua geração de tiozões entender e dar risadas.

    Mas nem precisa saber quem era John-Boy para gostar de "Dois Caras Legais". Shane Black escreve com o treino de quem estreou no cinema com o roteiro de "Máquina Mortífera" (1987). Quando passou a dirigir, com "Tiros e Beijos" (2005), demonstrou estar ainda mais atento a cada linha de diálogo do que à eficácia do conjunto.

    O que ele oferece em "Dois Caras Legais" é uma paródia, uma comédia que retorna à década de 1970 para dizer como tudo aquilo, visto de hoje, pode parecer incrível, sem deixar também de mostrar como era falso e cafona.

    Ao contrário dos pastiches do cinema americano dos anos 1970 com que cineastas como James Gray e Paul Thomas Anderson ganharam aura de autores, "Dois Caras Legais" não vai ao passado para reivindicá-lo, mas para rir dele.

    Afinal, Shane Black já não era criança quando viveu aquilo e sabe que a tal profundidade é ilusão de óptica.

    DOIS CARAS LEGAIS (The Nice Guys)
    DIREÇÃO Shane Black
    ELENCO Russell Crowe, Ryan Gosling, Angourie Rice
    PRODUÇÃO EUA, 2016, 14 anos
    QUANDO estreia na quinta (21)

    Edição impressa

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